Por Manuella Soares
Após defender a adoção da racionalização imediata de energia elétrica no Brasil, nesta segunda parte da entrevista ao Portogente, o físico Luiz Pinguelli Rosa, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e ex-presidente da Eletrobrás, fala dos atrasos em obras como em usinas importantes como Angra III e a hidrelétrica de Belo Monte, no Pará.
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Para o professor, esses atrasos comprometem o pleno funcionamento da matriz energética do País. A hidrelétrica de Belo Monte estava prevista para começar a operar este ano, mas, segundo Pinguelli, ainda vai demorar a entrar em atividade. “E as outras grandes usinas do Rio Madeira, como Girau e Santo Antonio, estão operando abaixo da capacidade. Usam turbinas pequenas chamadas de bulbo (usadas em pequenos reservatórios).”
A energia eólica também faz parte da matriz energética nacional e cresceu muito nos últimos anos e, embora ainda sejam poucas as usinas em operação, hoje, a produção de energia dos ventos empata com o modelo nuclear, informa Pinguelli.
Outra questão importante é a interligação deste modelo aos demais. “A interligação com os demais sistemas ainda deve ser feita para o maior aproveitamento da energia eólica na matriz brasileira”, diz.
Falta água, falta energia
Não só os atrasos em obras ou eventuais falhas de planejamento em relação à organização do sistema geram a crise energética. A escassez da água, especialmente nas regiões Sudeste, nos estados de São Paulo e Rio de Janeiro, e também em parte do Nordeste, contribui ainda mais para a falta de energia.
Para Pinguelli, estamos em situação de alerta devido à falta de chuvas nessas regiões.
“Em São Paulo há meses já está sendo anunciada a redução do nível dos reservatórios do Cantareira. Essa redução do nível de água também já atinge as hidrelétricas, como Itaipu, ainda que num nível menor, de 16 a 17%.” No estado paulista, o problema chega a atingir mais de 17 milhões. No Rio de Janeiro o cenário está cada vez mais semelhante, com o reservatório de Paraibuna, maior do estado, atingindo o volume morto e tendo o menor nível desde 1978. O professor considera, todavia, que, no estado fluminense, ainda há reservas suficientes para evitar o colapso.
Ar condicionado, vilão da vez
Se em 2001, o grande vilão dos apagões eram os chuveiros elétricos, neste verão sem chuvas e extremamente quente e seco, o mal é atribuído ao uso intenso dos aparelhos de ar condicionado em casas, escritórios e locais de serviço.
Para o professor, a campanha de racionalização de energia deve ser destinada especialmente à população e aos setores de serviços e comércio que, juntos, no momento, estariam consumindo mais do que o setor industrial.
Mas não é preciso sofrer com o calor. Bastaria que as pessoas não utilizassem os aparelhos no máximo de resfriamento. Aumentar um pouco a temperatura nos aparelhos já seria uma significativa economia no gasto e nas contas. Segundo Pinguelli, isso acontece em países como o Japão, onde há um limite de temperatura de 25 graus para os aparelhos. “Aqui no Brasil as pessoas usam o ar a 20 graus. Não é necessário. Se você tiver a temperatura externa a 30 graus e usar o ar a 25 graus, gasta x de energia. Se baixar para 20 graus, tem que baixar 10 graus e estará usando 2x, o dobro da energia. Além do desperdício, pagará o dobro do custo final na conta de luz”, ensina.
Em 2001, a população foi multada
Quando os níveis dos reservatórios caíram de forma extrema, em 2001, o governo Fernando Henrique Cardoso obrigou a população a um racionamento de energia, impondo multas e ameaças de desligamento a partir de um determinado nível de consumo.
Para Pinguelli, o governo atual não deve praticar cortes, especialmente em áreas críticas, como foi feito no Metrô paulista, no dia 19 último, e que atingiu dois milhões de usuários, “o que é um descalabro. Pode até cortar, mas evitando os pontos críticos”. No entanto, defende a aplicação de multas para forçar a racionalização pelos setores doméstico e de serviços.