“Não acredito que a web vá engolir o jornal impresso. E se isso vier a ocorrer, não será agora. O momento é de fazermos parcerias interessantes com a rede”, defendeu o diretor adjunto de Redação do Jornal do Commercio, o jornalista Laurindo Ferreira. Na direção contrária, o cientista chefe do Centro de Estudos Avançados do Recife (Cesar), Sílvio Meira, afirma que, sim, o jornal em papel vai acabar.
Durante o debate, foi citado o caso do tradicional Jornal do Brasil, que começou a circular em 1891 e anunciou, este mês, que deixará de circular em papel e continuará na internet. “No JB o que houve foi um problema grave de gestão. Não é um caso cuja a previsibilidade seja a mesma para todos os jornais. Existem jornais sólidos financeiramente, como é o caso do JC”, afirmou Laurindo Ferreira.
O jornalista lembrou que o Jornal do Commercio é líder em circulação no Nordeste e que o JC On Line, maior portal do Norte-Nordeste, tem aumentado sua participação comercial. “Mas ainda há uma proporção de 60 para um, quando se compara o faturamento do Jornal do Commercio e do JC On Line, que possui uma audiência espetacular”, disse. O JC tem uma circulação de 63 mil exemplares aos domingos, 51 mil aos sábados e uma média semanal de 41 mil exemplares.
Mesmo com os números robustos do JC, Sílvio Meira argumentou que o jornal impresso vai acabar e que o seu fim não significa que as notícias deixem de existir. “Não acredito nesse formato”, disse. O cientista afirma que está há 16 anos sem ler jornal impresso, mas, ainda assim, escreve um artigo para a Folha de S.Paulo uma vez por mês. “Aceitei porque foi um amigo que me convidou e isso me força a fazer uma reflexão 12 vezes por ano sobre um determinado assunto”.
Embora os dois debatedores não cheguem a um entendimento sobre o futuro do jornal, ambos acreditam que está vindo algo de revolucionário com o impacto causado pelas redes sociais. “A audiência está se transformando em comunidade”, resumiu Meira. E continua: “As redes sociais são plataformas programáveis que podem ser redefinidas. Ao invés de programar computadores, vamos programar a própria web e o impacto dessa mudança será revolucionário. Cada um vai prover novas formas em rede e pode colocar a sua programação (na rede)”. Num futuro próximo, a consequência disso é gerar mais conhecimento.
Na opinião de Laurindo Ferreira, as redes sociais já traçam um novo cenário nas redações. “O leitor não é mais um mero consumidor de informações. Ele está cada vez mais no comando e isso começa a mexer com a maneira como se faz o jornal. O jornalista não é mais o dono absoluto da informação, passando a ser um produtor de conteúdo, um mediador de demandas”, definiu o diretor do JC, que defende um jornal mais interativo que traga, inclusive, a criatividade existente nas redes sociais. “No jornal, essas novas tecnologias devem ser usadas a serviço do fazer juntos”, contou.
Em comum, Laurindo Ferreira e Sílvio Meira concordaram também que, qualquer que seja o cenário, é preciso melhorar a educação no Brasil.
Em sua palestra, o cientista afirmou que grande parte dos alunos da 8ª série que responderam aos questionários do Índice de Desenvolvimento da Educação (Ideb) não sabem que 80% significa oito em cada 10. Para Meira, trata-se de uma situação grave de um País onde grande parte da população é ignorante.
Ele citou que já existem algumas iniciativas que vão aumentar a quantidade de brasileiros com acesso à rede. “Se der tudo errado, o Plano Nacional de Banda Larga vai fazer com que 75% da população do Brasil tenha acesso a rede”, concluiu.
No entanto, isso não vai adiantar, se não houver uma melhora na educação, fator básico para o desenvolvimento de qualquer país.
Fonte: Jornal do Commercio