Uma das maiores dúvidas para quem segue dietas com restrição de carboidratos, como a cetogênica ou low-carb, é se é possível realizar atividades físicas intensas, especialmente o treino de academia, sem a ingestão de carboidratos.
A crença comum é que os carboidratos são a principal fonte de energia para o corpo, principalmente em atividades de alta intensidade.
No entanto, com o crescente número de pessoas aderindo a essas dietas e relatando resultados satisfatórios, vale a pena explorar essa questão mais a fundo.
Neste artigo, vamos abordar como é possível manter uma rotina de treinos eficaz em dietas low-carb ou cetogênica, com foco especial em hipertrofia muscular, e discutir as adaptações e estratégias necessárias para otimizar os resultados.
O Papel dos Carboidratos no Treinamento
Em uma dieta tradicional, rica em carboidratos, os carboidratos são a principal fonte de energia do corpo.
Eles são convertidos em glicose, que é armazenada nos músculos e no fígado na forma de glicogênio.
Durante exercícios intensos, como o treino de musculação, o corpo utiliza esse glicogênio para fornecer energia rapidamente.
Por causa disso, muitos acreditam que, sem carboidratos, o corpo ficaria "sem combustível", comprometendo o desempenho nos treinos e a recuperação muscular.
Contudo, estudos e relatos práticos de atletas e praticantes de dietas cetogênicas e low-carb mostram que o corpo é capaz de se adaptar e utilizar outras fontes de energia, principalmente a gordura, mantendo, assim, o rendimento físico.
Como o Corpo se Adapta a Dietas Low-Carb ou Cetogênicas?
Em dietas low-carb, e especialmente em dietas cetogênicas, o consumo de carboidratos é drasticamente reduzido, o que leva o corpo a entrar em um estado chamado cetose.
Nesse estado, o corpo passa a utilizar a gordura como principal fonte de energia, convertendo-a em corpos cetônicos que substituem a glicose em muitas funções energéticas.
Essa adaptação, entretanto, não ocorre de imediato.
Durante a fase de transição, conhecida como "keto flu" (ou gripe cetogênica), muitas pessoas relatam queda no desempenho físico, fadiga, e dificuldades para manter a intensidade dos treinos.
Porém, com o tempo, o corpo se ajusta e passa a utilizar a gordura de forma mais eficiente, o que permite continuar treinando e, em alguns casos, até melhorar a composição corporal.
Adaptação e Performance: A Transição Para o Uso de Gordura
A fase inicial de adaptação pode durar de alguns dias a algumas semanas, e durante esse período é normal sentir uma queda no desempenho.
No entanto, uma vez que o corpo se torna eficiente no uso de gorduras e corpos cetônicos como fonte de energia, muitos atletas relatam um retorno ao seu nível normal de desempenho, ou até uma melhora, especialmente em atividades aeróbicas e de resistência.
É importante destacar que, para atividades de alta intensidade, como musculação e treinos intervalados, o corpo ainda precisará de glicose em pequenas quantidades.
Para isso, ele pode utilizar o glicogênio residual armazenado nos músculos ou até mesmo produzir glicose, em um processo chamado gliconeogênese.
Hipertrofia Muscular em Dietas Cetogênicas e Low-Carb
Uma preocupação comum entre aqueles que buscam hipertrofia (ganho de massa muscular) é se a falta de carboidratos comprometerá o crescimento muscular.
A verdade é que o crescimento muscular não depende exclusivamente dos carboidratos, mas sim da combinação de estímulos adequados, ingestão de proteínas, e recuperação.
Ingestão Suficiente de Proteínas
O principal macronutriente responsável pela síntese proteica e pelo crescimento muscular é a proteína. Em dietas low-carb ou cetogênicas, é essencial garantir que a ingestão de proteínas seja suficiente para suportar a construção muscular.
A recomendação para hipertrofia varia entre 1,6 a 2,2 g de proteína por quilo de peso corporal por dia, dependendo da intensidade do treino.
Em uma dieta cetogênica, por exemplo, grande parte das calorias vem das gorduras, e as proteínas são ajustadas de modo a garantir a síntese proteica, enquanto os carboidratos são quase eliminados.
Com esse aporte adequado de proteínas, é possível estimular o crescimento muscular, desde que o treinamento de resistência seja realizado de forma eficaz.
Treinamento de Força e Hipertrofia
Independentemente da dieta, o treinamento de força com cargas progressivas é o fator principal para o ganho de massa muscular.
O músculo precisa ser desafiado por meio de exercícios de resistência, como musculação, para que ocorra a hipertrofia.
Em dietas low-carb ou cetogênicas, isso não é diferente.
A chave para o sucesso está na combinação de um treino eficiente com uma dieta bem planejada, rica em proteínas e gorduras saudáveis.
Durante o treino de resistência, o corpo utilizará os estoques de glicogênio muscular.
Embora em dietas com restrição de carboidratos esses estoques possam ser mais baixos, a utilização de gordura e corpos cetônicos como fonte de energia se torna predominante, especialmente após o período de adaptação.
Com isso, é totalmente possível obter hipertrofia em uma dieta cetogênica.
Benefícios de Treinar Sem Carboidratos
Além de permitir que o corpo utilize a gordura de forma mais eficiente, as dietas low-carb e cetogênicas apresentam outros benefícios que podem auxiliar nos treinos e na composição corporal. Alguns deles incluem:
Maior queima de gordura corporal: Com o corpo adaptado a utilizar gordura como combustível, a queima de gordura durante e após os treinos pode ser aumentada, ajudando na redução do percentual de gordura corporal e na definição muscular.
Preservação do glicogênio muscular: Mesmo com uma ingestão baixa de carboidratos, o corpo pode preservar os estoques de glicogênio para atividades de alta intensidade, como séries pesadas de musculação.
Melhora na recuperação pós-treino: Algumas pessoas relatam menor inflamação muscular e uma recuperação mais rápida após os treinos quando seguem dietas cetogênicas, o que pode estar relacionado à estabilização dos níveis de insulina e à menor produção de radicais livres.
Desvantagens e Pontos de Atenção
Embora seja possível treinar sem carboidratos e alcançar hipertrofia muscular, é importante destacar que essa abordagem pode não ser ideal para todos. Algumas desvantagens ou dificuldades podem surgir:
Dificuldade de adaptação inicial: Durante o período de adaptação, o desempenho físico pode ser prejudicado, especialmente em atividades de alta intensidade.
Menor explosão em exercícios de alta intensidade: Como os carboidratos são a fonte primária de energia para atividades de explosão, alguns atletas podem sentir uma leve queda no desempenho em treinos de alta intensidade.
Necessidade de ajuste individual: Cada pessoa reage de maneira diferente à dieta cetogênica ou low-carb. Alguns podem se adaptar muito bem e melhorar seu desempenho, enquanto outros podem sentir dificuldades em manter os níveis de energia.
Conclusão e Palavras Finais
Sim, é possível treinar na academia e alcançar a hipertrofia muscular sem carboidratos, seguindo dietas cetogênicas ou low-carb.
No entanto, esse processo exige atenção à ingestão adequada de proteínas, adaptação do corpo ao uso de gordura como combustível e um regime de treinamento bem estruturado.
Cada pessoa é única, e a resposta a essas dietas pode variar, então é essencial ouvir o corpo e ajustar a alimentação e os treinos conforme necessário.
Se você está pensando em adotar uma dieta com restrição de carboidratos e deseja manter seu desempenho na academia, a chave é a paciência durante o período de adaptação, junto com a garantia de que suas necessidades nutricionais estão sendo atendidas.
Afinal, com a abordagem correta, é possível alcançar excelentes resultados em termos de ganho de massa muscular e composição corporal em dietas low-carb ou cetogênicas.