Com enorme espanto, vi estampada, nos principais jornais de São Paulo, a foto de um jovem senhor de 54 anos, aposentado, que houvera trabalhado na Volkswagem e que agora é chamado de volta para atender à necessidade da empresa num momento de crescimento da produção dentro de um processo contínuo de aumento de demanda.
Dois foram os motivos do espanto. Primeiro ver que este senhor, forte e sadio, já estava aposentado. Não discuto os seus direitos em obter a aposentadoria, mas sim que esse homem ainda seria capaz de trabalhar com desenvoltura. Por quê, então, foi aposentado e se retirou da empresa ficando à margem do trabalho?
O segundo motivo do espanto é que a empresa declarou tê-lo chamado porque ele, em função de sua experiência, poderia trabalhar imediatamente, sem necessidade de algum tipo de treinamento, o qual seria absolutamente obrigatório caso o contratado fosse um jovem.
Por quê um jovem não poderia, em curto espaço de tempo, desempenhar esta tarefa? Com certeza porque não há uma coordenação adequada entre o que se ensina nas escolas e o que as empresas precisam ou, mais abrangentemente, do que o mercado precisa, e ainda em forma superior, do que a sociedade precisa. Mas, muito mais do que essa falta de coordenação entre ensino e mercado, as crianças e os jovens não estão sendo ensinados para pensar. Se tivessem a capacidade de pensar e de entender desenvolvidas, certamente seriam capazes de serem treinados em curto espaço de tempo, e assim obter trabalho nas empresas.
O ensino virou um mercado, tanto que em muitas escolas particulares os alunos são chamados de clientes, enquanto que em muitas escolas públicas os professores se sentem reféns das pressões exercidas pelos alunos e seus pais.
Num mercado, o fornecedor deve deixar o cliente satisfeito. Porém, o que os alunos sabem de satisfação com relação ao ensino, senão que necessitam de diploma, fomentados nessa busca pela intensa publicidade de que os que possuem diploma ganham maiores salários?
São estimulados tão somente a serem máquinas repetidoras. A maioria dos jovens chega às faculdades sem a mínima condição de acompanhar qualquer curso. Mas como o objetivo é o diploma tão pouco importa a eles se estão ou não aprendendo algo que possa ajudá-los na vida futura. O objetivo, na verdade, não é o diploma e sim o dinheiro que devem conseguir com a posse do canudo.
A culpa não é dos jovens, mas sim da sociedade injusta que os conduz a esse caminho. Pobres de nós que não entendemos ainda que o mundo é cruel com aqueles que não têm capacidade de pensar, com aqueles que não têm correta instrução, com aqueles que não conseguem evoluir por falta de base educacional para tanto.
Outro dia encontrei um senhor que tinha sido gerente de grandes empresas quando mais jovem. Agora ele se limita a ser supervisor de uma área. Quando comentei sobre sua formação, ele me disse todo orgulhoso que tinha aprendido na escola da vida. Não percebeu que perdeu seu lugar justamente para aqueles que tinham menos escola da vida, mas mais educação formal. Todos os países desenvolvidos apresentam alto grau de escolaridade na sua população, porém não só o número é importante, mas a qualidade desse ensino.
Uma vez fui fazer um curso de micro-economia na Universidade de Aachen. No primeiro dia, o professor entrou, colocou seus livros sobre o púlpito e, com jeito bravo, disse: “a economia nesse país está uma vergonha. Há mais de cinco anos não ganhamos qualquer prêmio Nobel”. Sentado na última fila eu ri sozinho. Que disparate. Pensei: “Há mais de 15 anos não ganhamos da inflação”.
A China, sabendo que o futuro só será dos que tiverem educação de ponta, tem enviado seus homens e mulheres para serem educados nas melhores escolas do mundo. Está educando com urgência a geração de técnicos e cientistas, apesar de eles voltarem para um país que ainda tem uma base industrial limitada, conforme apresenta Willian Pfaff do Internatinal Herald Tribune de Paris. Eles estão aprendendo inglês e espanhol, pois sabem que o mundo futuro continuará sem fronteiras.
Enquanto isso, ganham dinheiro produzindo a custo baixo, e quando o custo sobe em uma determinada região, mudam suas fábricas para outras regiões chinesas ainda pobres. Eles sabem, entretanto, que esse caminho tem um fim e estão se preparando para isso.
Ao mesmo tempo, os nossos professores são exterminados. Um professor universitário ganhando R$ 1.400,00 por mês para dedicação de dois dias por semana nas universidades do Rio de Janeiro, é simplesmente ridículo. É criar desestímulo para qualquer um que queira se dedicar ao ensino e à pesquisa.
Pesquisadores e médicos de hospitais públicos federais trabalhando por absolutamente nada. O trabalho tem sentido para as pessoas, mas elas precisam viver dignamente para poder ter capacidade de trabalhar.
É com esse quadro que esperamos dar o grande salto de qualidade, tão falado pelos governantes? As empresas exigem sempre jovens mais bem preparados. Como eles não existem, são as próprias empresas que criam cursos específicos para treiná-los. Isso é custo para as empresas.
Por outro lado, para reduzir seus custos, quando as funções assim o permitem, as empresas contratam jovens porque suas exigências salariais são baixas, já que há muitos egressos de faculdades. O que esses jovens têm trazido de contribuição para as empresas? Pouco ou nada. Não conseguiram, nos bancos escolares, estudar o que há de mais moderno e desenvolvido no mundo, em qualquer campo.
Mas não só as empresas sofrem. A sociedade se acanha. Os problemas aumentam. As soluções minguam. Por sorte nossa há algumas escolas e faculdades que destoam desse quadro e são verdadeiros ícones de qualidade em ensino.
O país, porém, precisa que a maioria siga a melhoria de qualidade. Melhorar distribuição de renda não se faz com distribuição de dinheiro, mas sim capacitando o povo a produzir melhor e a exigir mais, como fazem os países desenvolvidos.
Por sinal podemos comparar esse quadro do nosso ensino escolar com nossa medíocre participação no Mundial de Atletismo versus o desempenho nos Jogos Pan-Americanos. Aqui, sem muitos concorrentes, obtivemos várias medalhas de ouro, prata e bronze. No Mundial, concorrendo globalmente, finalizamos com apenas uma única medalha de prata.
Competir é isso, não basta apenas o talento, descoberto ao acaso, mas os talentos cultivados, treinados, educados.