Quarta, 16 Julho 2025

A coluna Cais das Letras entrevista, nesta edição, o engenheiro portuário pós-graduado em Gestão Portuária pela Universidade de Antuérpia (Bélgica), José Antonio Marques Almeida. Também conhecido como Jama, foi presidente da Câmara Municipal de Vereadores de Santos, no litoral paulista, onde está o maior porto do País.

Editado Jama entrevistaO engenheiro José Antonio Marques Almeida defende a área técnica brasileira para
resolver a melhor solução da ligação seca entre as duas margens do Porto de Santos.
Crédito: Arquivo pessoal.

A mobilidade pública será um dos temas mais discutidos na campanha das eleições do segundo semestre. O governo Doria tem a construção da ponte Santos-Guarujá como um dos projetos importantes da sua gestão. Como engenheiro e especialista na área portuária, com mais de 40 anos nessa atividade, como você avalia o processo de discussão sobre o projeto da ligação seca entre as duas cidades que margeiam o porto do País, Santos e Guarujá?
José Antonio Marques Almeida - Mobilidade pública é um tema de abordagem holística. Ao focarmos os centros urbanos, onde ela mais se evidencia, conceituada como um processo contínuo, exige ser tratada por políticas competentes e adequadas às demandas da sociedade. Sob esse prisma, a ponte Santos-Guarujá há quase um século se apresenta como uma demanda prioritária. Para atender ao turismo balneário do estado mais pujante do País e para ligar as duas margens do mais importante porto do Hemisfério Sul. Neste sentido, Doria está no caminho eleitoral correto. No entanto, a discussão nas cidades foco da solução são feitas sem ingrediente político essencial, já que o apoio popular é total.

O governo do Estado tem tido dificuldades para aprovar, junto ao setor portuário, o projeto da ponte. Como você vê essa questão? Quais os maiores desafios? O governo do Estado defende da ponte, o governo federal defende o túnel. Como lidar com esse impasse?
Esse impasse ocorre também por mediação insuficiente. As cidades carecem de fóruns político e de engenharia à altura do desafio. Eu morei em Antuérpia, Bélgica, em 1990, uma das mais importantes cidades portuárias do mundo, com características populacional e um canal do porto similares ao cenário da nossa ponte; lá já havia dois túneis submersos na zona portuária. Essas bobagens de Fla x Flu, governos estadual e federal, devem e têm que ser decididas no gramado dos municípios envolvidos. Infelizmente, ambos sem discurso para dar uma solução para o caso. A começar por esses municípios enquadrarem a Autoridade Portuária. Reciprocamente, cabe a essas cidades desenvolverem competência para tratar das questões portuárias. Ou seja, resgatar uma cultura que viveu seu último momento na década de 50, onde aconteceram grandes realizações como o túnel de Santos e o porto cresceu pujantemente.

O governo do Estado tem dito que as licenças ambientais para o projeto já estão autorizadas, o que a Cetesb não confirma. Na sua avaliação, esse discurso sobre a ligação seca tem tido um teor político que se sobrepõe ao discurso técnico sobre os projetos?
Há muito a política vem se apoiando nas fake news para produzir resultados eleitorais interesseiros a grupos dominantes. No caso da ponte podemos citar a maquete da ponte Santos-Guarujá do candidato Serra à Presidência da República. Convenhamos que um projeto dessa envergadura emperrando no mínimo não tem motivação para chegar ao máximo. A Engenharia nacional tem competência de sobejo para concretizar esse projeto. Entretanto, para produzir resultado, a questão deve ser circunscrita à proposta da Ecovias – por sua excelência - e a área política agir comprometida com o progresso. Essa é garantia de sair essa ponte, que não interfere no investimento do túnel. E assim, como há mais de 30 anos em Antuérpia foram construídas duas travessias a seco do canal do porto de lá, de largura igual ao daqui. Basta pensar grande.

Como engenheiro, como você avalia as vantagens e desvantagens dos projetos da ponte e do túnel?
Reitero que temos o principal: engenharia muito competente para fazer a necessária e inadiável ligação a seco das margens do mais importante porto do Hemisfério Sul. Isto significa produtividade portuária. A única preocupação, como deve ter sido a ponte Rio-Niterói com o aeroporto Santos Dumont, no Rio de Janeiro, é em relação à Base Aérea de Santos, no Guarujá. Isto tem parâmetros e competência da Aeronáutica para superar. De resto, não há argumento contrário sustentável. Principalmente porque a Ecovias tem esse projeto como fator de produtividade e competitividade do seu negócio, pois ela concorre com o modal ferroviário. Esse projeto da Ecovias merece o apoio de toda a Baixada Santista, pois vai melhorar o fluxo do trânsito portuário nas cidades e facilitar o acesso dos turistas às praias.

Qual seria a melhor forma de conduzir um projeto de ligação seca que levasse em conta as necessidades do porto e da cidade?
Há quase 100 anos, o grande arquiteto Prestes Maia teve o insight dessa ponte. Agora é construir. Ela atende às duas condições a que se presta: portuária e urbana. Cidades portuárias para pessoas precisam segregar o tráfego portuário. Ao mesmo tempo, como nos ensina o mestre Le Corbusier, a cidade é um instrumento de trabalho. E o porto é esse local de trabalho que assimila a última geração de tecnologia. A ponte Santos-Guarujá é uma artéria por onde irá fluir o sangue do sistema que impulsiona a vida dessa vigorosa relação Porto e Cidade.

Marcia editada* Jornalista, fotógrafa, pesquisadora, docente, pós-doutora em Comunicação e Cultura e diretora da Cais das Letras Comunicação. Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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