Sexta, 29 Março 2024

Uma pesquisa divulgada no dia 16 de novembro pelo grupo A Tribuna aponta que 64,9% da população de Santos aprova o projeto da ponte da Ecovias. Foram ouvidas 800 pessoas. Levanto o seguinte questionamento: uma discussão mais democrática não implicaria em indagar de que tipo de ligação seca precisamos? Pois esse é o justamente o embate travado nos últimos anos na região.

modelo túnel internacional“No mundo há 134 projetos de túneis construídos, dos quais 60% estão na Europa”.
(Remko van den Wijngaard, especialista Boskalis em Túneis Tecnologias de Imersão)

Em Santos, vários vereadores e o prefeito de Santos apoiam a ligação seca projetada pela Ecovias, mas a Prefeitura de Guarujá levanta alguns pontos de exclamação sobre o tema. Alexandre Trombelli, secretário de Desenvolvimento Econômico e Portuário da Prefeitura do Guarujá, afirma que o município vem discutindo sobre a proposta da ponte em reuniões técnicas com a Ecovias e a Codesp e que é preciso ampliar as discussões para definição do melhor projeto para a Baixada.

Embora acredite que a ponte seja a proposta que mostrou maior viabilidade para sua execução, Trombelli destaca ser o túnel submerso o projeto que atenderia por completo a mobilidade da população entre as duas cidades. “Equalizaria o problema da travessia das balsas no Ferry Boat, como também das barcas entre Vicente de Carvalho e Santos. A ponte tem uma função mais logística, voltada ao segmento portuário”. O secretário participaria da audiência na Câmara Federal para discussão da ligação seca, mas esta foi cancelada, sem data prevista para acontecer. “Sendo escolhida a ponte como o projeto a ser executado, a Prefeitura vem apresentando à Ecovias algumas demandas que envolvem os acessos ao município”.

André Neiva, diretor do Sindicato das Empresas de Transporte Comercial de Carga do Litoral Paulista (Sindisan), lembra que a ponte não desafoga o trânsito da balsa. “O projeto da ponte aumentará e muito o trajeto dos motoristas, que terão que se deslocar até a entrada da cidade para poder acessá-la. O túnel seria a melhor opção, com percurso menor e mais e melhores condições de mobilidade urbana”. Para o transporte de cargas ainda falta esclarecer informações importantes para a operação e logística da atividade, sobre o pedágio e seu custo, explica.

“Há 17 anos o setor produtivo paga um dos pedágios mais caros do País e não pode utilizar a pista descendente da Imigrantes. Precisamos de transparência nos processos e, nesse sentido, acreditamos que esse tipo de obra deva ser licitada, e não apenas estender o prazo de concessão do Sistema Anchieta Imigrantes. O Porto de Santos perdeu muitas cargas para outros Portos, e o custo do pedágio e um dos motivos”, afirma o sindicalista.

Contra a onda política que defende o projeto da ponte, nos últimos dias dois debates reascenderam o debate sobre o túnel. A Associação de Engenheiros e Arquitetos de Santos promoveu o Workshop Internacional Soluções Modernas de Engenharia Portuária para Túneis Imersos, com a participação de especialistas e autoridades nacionais e internacionais. No entanto, nem o prefeito de Guarujá nem o de Santos compareceram - o último enviou representante da Secretaria do Meio Ambiente.

Foi um encontro em que especialistas puderam contar com mais detalhes as diferenças entre as atuais opções para a ligação seca. A coluna destaca:

Reginaldo Ortega, da equipe técnica da Codesp, apresentou a proposta do novo túnel, que busca evitar desapropriações, contemplar todo o tráfego possível (ciclistas, pedestres, carros, acesso ao VLT), otimizar o traçado para melhorar custo das obras e utilizar o máximo os acessos pela perimetral.

Dieter Herwag, gerente da Themag e autor do projeto do túnel da Dersa, mostrou toda a estrutura do túnel, a forma de construção e as otimizações possíveis: redução da seção do túnel (2 faixas de sentido), doca seca independente do emboque, redução do calado do túnel de 21m para 18m e redução da intervenção nas cidades, além da redução do gabarito rodoviário do túnel de 5,5m para 4,5 m.

O engenheiro Remko van den Wijngaard, especialista em Túneis Tecnologias de Imersão da empresa Boskalis, falou sobre soluções de transporte e logística dos módulos. “No mundo há 134 projetos de túneis construídos, dos quais 60% são na Europa. Essa tecnologia é viável aqui. O Brasil pode construir os elementos e obter ajuda externa para o design, construção e imersão. A extensão é mínima e não há restrições à altura, o que facilitaria as operações do aeroporto”.

Harald Franke, engenheiro da empresa Royal Haskoning DHV, empresa que prestou consultoria para a Dersa na elaboração do projeto básico do empreendimento, comparou os dois projetos de ligação seca: “A ponte pode parecer mais barata o custo, mas o custo do transporte até chegar a ela é altíssimo em relação ao túnel. O túnel pode custar mais caro por quilômetro, mas é mais curto, é mais competitivo. Se se quer resolver o problema do tráfego, da mobilidade, ele é a solução”.

Para Franke, a proposta do túnel é muito superior à da ponte. “Já foram expostos todos os fatores que comprovam isso. A interferência urbana de um túnel é muito menor, e o acesso até ele é muito mais rápido. Ele promove uma ligação mais curta, rápida, enquanto o motorista, para acessar a ponte, precisa recorrer a acesso longo até chegar a ela. Além disso, a ponte promove interferências na navegação e no gabarito aéreo. No mundo todo estão desativando pontes, a exemplo do que ocorre em Roterdã, que possui atualmente 19 túneis”.

Alguém precisa assumir o projeto do túnel, afirma Franke. “Não há mais a Dersa. Não é possível realizar o projeto sem a parceria com as prefeituras, são elas que dão aval. Não basta o apoio do governo federal”. Além disso, apontou que é necessário cautela para não encarecer o projeto: “O projeto do túnel da Dersa não evoluiu porque também as prefeituras começaram a barganhar melhorias no entorno do túnel – exemplo ocorreu na prefeitura de Guarujá, o que encareceu muito o projeto”.

Aureo Pasqualeto Figueiredo, diretor de Engenharia da Unisanta e diretor da Associação dos Engenheiros de Santos, defende que não se deve economizar na qualidade da obra e também não se deve aceitar a renovação da licitação da Ecovias, que implicará em mais pedágios.

Daury de Paula Junior, ex-promotor de Justiça de Urbanismo e Meio Ambiente de Santos/SP, lembra que o projeto do túnel havia sido a escolha sobre a melhor forma de ligação seca. “É difícil explicar por que agora o estudo foi ignorado e se decidiu por outro empreendimento. É o mesmo licenciador. A mudança de rumo não justifica a proposição atual, a não ser a prorrogação do contrato do sistema Anchieta-Imigrantes.

É preciso pensar a região de forma metropolitana, afirmou. “Santos está concentrando renda, como se fosse a única cidade da região. Vicente de Carvalho é a nova Santos, com potencial de ocupação, mas a prefeitura de Santos não gosta de pensar isso”.

O engenheiro Elio Lopes citou a falta de entrosamento entre governo do Estado e Federal no debate sobre a ligação seca. “Esse não é um bom caminho. Vejo como a melhor solução o entrosamento entre governo do Estado e Federal junto com Ministério Público, consultar o Ministério antes de apresentar projeto do túnel e evitar problemas com a judicialização”.

Eduardo Lustoza, diretor de Portos da Associação dos Engenheiros de Santos e organizador do evento, explica que quem é portuário entende a importância do túnel para o porto, promovendo a livre navegação. “Temos que priorizar e pagar o túnel, custe o que custar. Não cabe um porto com o maior fluxo de caminhões do Brasil pensar em obra paliativa, é preciso amparar o desenvolvimento do porto por 50 anos”.

Tiago Cunha Soares, diretor da Associação Brasileira de Parceria Público Privada, acredita que há falta de vontade política para aprovar a proposta do túnel. “Já existe empresa estrangeira que pode investir no túnel, é um grupo chinês”. Lustoza também reforça que já há empresas interessadas em financiar a obra do túnel.

“Brigamos atualmente para que o financiamento seja pago pela União, pois ela conta com farta arrecadação tributária. Os dois maiores gestores de receita no Brasil são o governo estadual e federal. Merecemos royalts, não praças de pedágio”, afirma, destacando a necessidade de união para defender o projeto. O engenheiro deixa claro que não só a técnica prevalece na definição da melhor ligação seca. “O tema é altamente político. O que estamos percebendo é que não estão ouvindo a Autoridade Portuária. A única obra aceitável é o túnel”.

Conhecer melhor cada projeto
Um debate aprofundado e aberto com a sociedade sobre as vantagens e as desvantagens de uma ponte ou um túnel para a região poderia orientar a escolha sobre a melhor forma de ligação seca para a Baixada Santista. Enquanto prevalecer o interesse político ou privado, o interesse público será prejudicado.

Sim, tudo indica que a decisão será mais uma vez política, como foi a decisão de não se fazer o túnel lá no governo de Geraldo Alckmin. Uma pesquisa voltada para um único projeto não indica o verdadeiro interesse da população e mesmo do desenvolvimento da Baixada Santista. Não defendemos um ou outro, aqui queremos sim abrir espaço para um debate técnico. Ponte? Já foram apontados possíveis problemas e a Ecovias trabalha para ajustar o projeto. Túnel? Detalhes foram debatidos na Associação de Engenheiros e Arquitetos de Santos, ficariam restritos à uma auditório? O cidadão também precisa saber, conhecer, participar, para que esta não seja uma decisão de gabinetes.

Marcia editada
* Jornalista, fotógrafa, pesquisadora, docente, pós-doutora em Comunicação e Cultura e diretora da Cais das Letras Comunicação. Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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