O comerciante Fernando Agostinho da Conceição, de 30 anos, pega seu carro em Guarujá e vai trabalhar todos os dias na distante Ilha Barnabé, onde são abrigados os produtos inflamáveis do Porto de Santos. Só que ele, outros trabalhadores do porto e os caminhoneiros que por lá passam sofrem com a falta de infraestrutura de um dos locais mais importantes do cais santista e clamam por mudanças imediatas, principalmente por parte da Codesp.
Fernando é dono de uma cantina, chamada Pais e Filhos, que ganhou do sogro para administrar. Antes, ele vendia alimentos no Terminal de Granéis de Guarujá (TGG), mas após um acordo saiu da área. Ao escolher a Ilha Barnabé para trabalhar, não sabia que por lá faltavam luz e segurança, tampouco tinha idéia de que, na ilha, sobravam buracos na via de acesso terrestre aos terminais. Mas, sem desanimar, ele usa o começo de 2009 para se preparar e, por que não, reclamar.
A safra do álcool começa em abril e vai até setembro, período este em que a Ilha Barnabé fica lotada de caminhões e caminhoneiros, com filas quilométricas que avançam até a Rodovia Cônego Domenico Rangoni, a antiga Piaçaguera-Guarujá. O que Fernando mais deseja é ver, até lá, a ilha sem tantos buracos como hoje e com um pouco mais de segurança, principalmente para os caminhoneiros que, muitas vezes, dormem em seus próprios veículos.
Caminhões que transportam produtos perigosos fazem parte do cotidiano da Ilha
“O pessoal tem medo da Ilha Barnabé por causa da lenda de que ela pode explodir a qualquer momento, mas eu tenho medo é dos assaltantes. O lugar fica muito escuro de noite, um perigo na safra de álcool. Eu mesmo ficarei aberto 24 horas com minha cantina, mas sei dos riscos. Acho que o Porto de Santos, tão rico, pode olhar um pouco mais para cá. Teremos em breve a Embraport funcionando ao lado da ilha e cadê a segurança?”, indaga.
A Ilha Barnabé tem esse nome porque pertenceu, entre outros, ao falecido comendador santista Barnabé Francisco Vaz de Carvalhaes. Foi constituída como área portuária nos anos 30, apontada como local ideal para a reserva de produtos inflamáveis, aumentando a extensão do Porto de Santos e livrando a Cidade das cargas perigosas. Ela possui até hoje tanques de petróleo bruto, ali deixado pelas embarcações petroleiras e navios-tanque.
Mas, ao transitar pelo local, a impressão que se tem é de que ele é bem menos importante do que se diz. O caminhoneiro Ricardo da Conceição Dias, de 49 anos, dirige sempre pela ilha e afirma ter perdido as contas de quantas vezes desviou de buracos e passou noites de sufoco para descarregar álcool nos tanques para exportação. Alguns buracos são tão grandes, explica o profissional do volante, que o risco de quebra do eixo do caminhão é iminente.
“A Ilha Barnabé poderia ter mais estrutura, não ser largada como é hoje. Me sinto abandonado quando vejo que não há banheiros, iluminação, buracos de sobra. Estou por aqui sempre e não vejo nem mesmo um asfalto novo. O lugar é muito bonito, tem rio, árvores, plantação nas margens da pista, mas isso não condiz com um porto moderno. Só vão olhar para cá quando alguém morrer em um assalto? Ou quando as cargas forem para outros portos?”, pergunta.
Em reunião do Comitê de Logística da Codesp, na penúltima semana de dezembro, o diretor de Infraestrutura da Docas, Paulino Moreira Vicente, anunciou uma obra emergência denominada Tapa Buraco, onde a Ilha Barnabé seria asfaltada e os buracos sumiriam de vez do local.
Só que, até o último domingo (11), nenhuma máquina passou por lá e os buracos só se multiplicam, para irritação de Fernando, Ricardo e outros tantos trabalhadores que ganham a vida na ilha mais famosa e lendária da Baixada Santista.