* por Dalton Setoyama Incerpi
As cidades representam os anseios de seus moradores, seus desejos, suas aspirações. É verdade, contudo, que essas pretensões, por muitas vezes, são desencadeadas tendo em vista as características geográficas e históricas das próprias cidades. Assim, é possível predominar, em uma determinada cidade, marcas políticas, portuárias, econômicas, esportivas ou culturais específicas. Entretanto, é raro uma cidade apresentar apenas uma função e um lugar no seio da sociedade nacional ou global, pois, em geral, possui centro de poder político, fábricas, universidades, laboratórios de experimentos científicos e artísticos, entre outros. Nela germinam idéias e movimentos, tensões e tendências, possibilidades e fabulações, ideologias e utopias.
Com a chegada do capitalismo e, por conseqüência, com o fim das barreiras anteriormente formadas por regimes políticos, mercados, moedas, línguas, religiões e, principalmente, soberania, as cidades foram obrigadas a se adaptarem a uma nova visão, que reorganizou o mapa econômico mundial.
O fim da Segunda Guerra Mundial e da Guerra Fria marcou o início da ação de grandes corporações transnacionais, as quais foram se espalhando por todos os países, intensificando o comércio e negócios internacionais pelo domínio do mercado econômico mundial.
Essas corporações transnacionais foram se instalando em cidades tipicamente urbanas, as quais passaram a receber a denotação de “cidades mundiais”. Estas cidades, por sua vez, foram enredadas, em sua natureza, por uma hierarquia urbana de influências e controle.
As cidades mundiais, por deterem o controle dos meios decisórios e das finanças, são fortemente interligadas entre si, constituindo um sistema mundial de controle da produção e da expansão do mercado. Entre os exemplos de cidades mundiais, encontram-se metrópoles como Tóquio, Los Angeles, São Francisco, Miami, Nova York, Londres, Paris, Randstadt, Frankfurt, Zurique, Cairo, Bangcoc, Cingapura, Hong Kong, Cidade do México e São Paulo. Mas no contexto do capitalismo não se encontram tão somente as cidades mundiais, e sim todas as cidades, as quais passaram a ser entendida como cidades globais.
A cidade global que se torna realidade no final do século XX é a que produz como condição e resultado da globalização do capitalismo. Torna-se uma realidade propriamente global na época em que o capitalismo, visto como processo civilizatório, invade, conquista, assimila, desafia, recobre, convive, acomoda-se ou mesmo recria as mais diversas formas de vida e trabalho, em todos os cantos do mundo. Um processo histórico de amplas proporções que já se desenvolvia irregularmente com o mercantilismo, colonialismo e imperialismo (sempre atravessados pela acumulação originária), alcançando intensidade e generalidade excepcionais no limiar do século XXI. Essa é a configuração histórica e geográfica em que emerge a cidade global, quando muitas cidades são recriadas nos horizontes da globalização.
Portanto, o processo de desenvolvimento econômico, isto é, a globalização, trouxe novos rumos a serem seguidos pelas cidades, as quais passaram a se preocupar, em âmbito mundial, com as tendências atuais e vindouras. Um dos exemplos é a necessidade da cidade de Santos de inserir-se no cenário global através de políticas públicas com a criação de uma Secretaria Municipal de Relações Internacionais para que venha a fazer parte do contexto universal em todos os aspectos (econômico, social, político, etc), de modo a não ficar à margem do que ocorre no mundo e, principalmente, nas cidades mundiais, que “governam” todos os indivíduos de maneira generalizada.
* Dalton Setoyama Incerpi é pós-Graduando em Negociações Econômicas Internacionais pela UNESP-UNICAMP-PUC/SP e Bacharel em Relações Internacionais.