Muito se fala sobre as mulheres que vendem prazer no porto de Santos, mas poucos sabem suas verdadeiras histórias, talvez seja esse o ponto entre o mistério e a fantasia que envolve uma das profissões mais antigas do mundo. A começar pelo nome de batismo que é imediatamente trocado pelo ‘nome de guerra’. “É uma forma de proteção trocarmos o nome. Na verdade vestimos uma máscara ao fazermos isso, como se fossemos atrizes interpretando personagens” explica uma das garotas que aguardava seus clientes em uma das pequenas portas da rua Brás Cubas, onde a ‘função’ (como elas se referem ao trabalho) não pára.
Segundo algumas moças que trabalham mais perto do cais santista existem garotas credenciadas para entrar no porto de Santos e que se beneficiam dessa oportunidade para já marcar com os tripulantes os encontros noturnos. Há boatos de que muitas fazem os programas nas cabines dos navios ou em alto mar, mas nenhuma das profissionais entrevistadas pôde confirmar essas informações.
Uma veterana da profissão, entrevistada em uma lanchonete de esquina entre a rua Brás Cubas e a rua João Pessoa, conta que muitas garotas que vêem trabalhar ali tem diploma universitário, fala mais de uma língua fluentemente e são de famílias de bem. “Acredito que elas estão nessa vida porque gostam. Acho que é o dom delas.”
É o caso de Daiane, paranaense, natural de Londrina, levava uma vida absolutamente normal, em sua terra natal. Casada mãe de dois filhos, lecionava em uma escola de educação infantil. “Tenho dois cursos superiores, o de pedagogia e o de letras”. A história dela como garota de programa começou depois que as discussões com a sogra, que também era dona da escola onde trabalhava, encheu de problemas seu casamento. “Um dia para dar um basta resolvi largar a escola e o casamento”.
Seduzida pela conversa de uma amiga que trabalhava em uma boate da sua cidade natal, Daiane quis conhecer o trabalho das garotas de programa, mas como não tinha coragem de freqüentar uma boate em Londrina, ela foi até Paranaguá, cidade conhecida pelo seu porto e conseqüentemente pelas garotas que se envolvem com marinheiros. “Em Paranaguá fiquei apenas duas noites, não gostei da Cidade e tinha muito medo de ser reconhecida pelo fato de estar no meu Estado, então consegui uma carona para a cidade de Santos, com um caminhoneiro que ia descarregar no Porto santista. Chegando aqui me alojei em um quarto e comecei a freqüentar uma boate que fica nas imediações do porto e a fazer programas amorosos com marinheiros, em sua maioria de origem filipina”.
Daiane pensa em mudar de vida mas ainda não se decidiu completamente, nem mesmo depois do pedido de casamento que recebeu de um marinheiro indiano, que todo mês lhe envia um bom montante em dinheiro, que ela não quis revelar o valor. “Já trabalho há dois anos na boate, não sei como seria sair daqui. Mando parte do dinheiro que recebo para meus filhos e o meu ex-marido sabe o que eu faço”.
As velhas histórias de um amor em cada porto são comuns entre as meretrizes, como também são as brigas entre elas pelos seus clientes. “A maioria dos meus clientes são fixos, mas quando não tenho nada marcado atendo com carinho os novos fregueses, assim quem sabe eles não se tornam fixos também”, comenta a mulata vestida de roupão na porta de um casebre do bairro do Centro, em Santos. “Mas fico louca da vida quando vejo meus homens nas garras de outra sirigaita”, finaliza.
Segundo um funcionário da Codesp que não quis se identificar as garotas de programa vão pegar as escalas dos navios diariamente, na antiga Dirop. “Geralmente são quatro ou cinco delas que passam para pegar as escalas e elas não dividem com as outras a escalação”.
O antigo casarão, como é chamado o prédio do tráfego, não é o único meio que elas possuem para saberem se os seus clientes irão desembarcar no porto de Santos. Muitas se comunicam com os parceiros através da internet. “Mando e-mails para eles sempre, assim não me exponho tanto indo buscar as escalas, mas também mando quando preciso de alguma ajuda financeira. É simples vou ao correio e uso a internet, mas quando o movimento está muito intenso no trabalho peço para alguém de confiança mandar por mim”.
Os programas realizados pelas garotas do cais santista variam entre U$100 a U$300. Seus clientes mais freqüentes são os filipinos, mas também é comum encontrar nas boates da área portuária, pessoas de várias nacionalidades. Segundo algumas mulheres mais antigas na profissão não mudou quase nada o fato dos navios permanecerem menos tempo atracados, muito pelo contrário. “Agora temos mais procura que antes”, confidencia.
Como nos filmes e novelas - Muitas tem sorte de sair da prostituição como no filme “Uma Linda Mulher”, protagonizado pela atriz, Julia Roberts e pelo ator Richard Gere. Mas há casos como o da personagem ‘Nazaré’ interpretada pela atriz, Renata Sorrah, na novela das 20 horas, da Rede Globo, “Senhora do Destino”, que como dizia sua companheira de bordel “Djenane” (Elizangela) “Uma vez pegadeira sempre pegadeira”.
Cláudia se encaixa nesse perfil era jovem quando fugiu de casa e veio para Santos, não demorou muito e a menina começou a freqüentar as boates da zona portuária. “Costumava fazer programas com russos, ucranianos, alemães e noruegueses, meus prediletos”.
E foi justamente um norueguês que mudou radicalmente sua vida, pelo menos enquanto o relacionamento durou, ela conheceu-o na boate onde trabalha, os dois tinham a mesma faixa etária na época, cerca de 23 anos. O marinheiro encantado com a beleza de Cláudia veio para o Brasil passar férias e quis se casar, ela acabou aceitando e foi morar na Noruega.
Cláudia já tinha um filho com o norueguês e estava grávida de outro. Morou por dois anos lá, mas voltou sozinha para o Brasil. O motivo foi traição. Enquanto o marido trabalhava, ela encontrava-se com o melhor amigo dele. Quando descoberta pelo pai de seus filhos, ele a mandou embora e ficou com a guarda das crianças.