Renan Diez é diretor da Intervip Comércio Exterior e aluno do programa CEO Insights da IBE-FGV
Donald John Trump, empresário, presidente do conglomerado “The TrumpOrganization” e fundador da “TrumpEntertainment Resorts” contrariou todas as pesquisas prévias norte americanas e ocupará a cadeira mais poderosa do mundo, tendo sido, eleito o novo presidente dos Estados Unidos da América.
O barulho de sua vitória já tem ecoado em todos os cantos do mundo. A mídia brasileira e internacional segue em sua maioria repercutindo as consequências negativas do resultado das eleições americanas, as quais apesar de estarem ainda no campo das previsões, podem fatalmente ocorrer e comprovar que a balança é realmente mais pesada do lado pessimista das análises e previsões de grande parte dos especialistas.
No contexto destacado ao comércio exterior, numa visão objetiva, observamos que Trump está sob a bandeira do partido Republicano, enquanto que Hillary Clinton representava os Democratas. Historicamente, o partido Democrata de Hillary se se mostra mais protecionista, ou seja, impõe maiores barreiras ao livre comércio internacional. Neste sentido, se torna mais interessante ao Brasil que um candidato republicano esteja à frente das decisões ligadas ao mercado internacional.
Porém, Trump não segue um padrão e já se mostrou confuso em algumas declarações ligadas a questões econômicas, as quais nem sempre seguem uma lógica capaz de prever as ações que o novo presidente irá tomar com relação a este tema. O novo presidente inclusive já se posicionou bastante protecionista, contrariando a ideologia do próprio partido Republicano.
No cenário internacional, num primeiro momento a repercussão no mercado foi bastante ruim, porém, podemos atribuir isso a um efeito meramente psicológico. Da mesma forma que o dólar caia no momento em que se anunciava o impeachment da presidente Dilma Roussef, o mercado também reage negativamente com a confirmação da eleição de Trump, porém, isso se reserva apenas às perspectivas, suposições, e ao humor mercadológico, razão pela qual deve ser transitório e, somente ter seu efeito consolidado num momento posterior.
O professor de política e administração pública Robert Gregory Michner ressalta: “Trump não tem uma grande preocupação com a América Latina, salvo no sentido negativo, em termos de imigração ilegal. Aquela defesa da democracia e de um governo aberto que tem Barack Obama não vai ser de muita importância para Trump. Vai ser mais importante assegurar que todos sejam aliados dos Estados Unidos. Que o Brasil e a América Latina estejam firmemente pró Estados Unidos.”
Trump é imprevisível, observaremos ainda se o discurso de campanha era essencialmente retórico ou se de fato era um prefácio de suas futuras ações, as quais se revelarão quando ele se deparar com a agenda norte-americana assim que assumir oficialmente.
Pessoalmente, acredito que algumas declarações de Trump têm o objetivo de ancorar futuras negociações. Trump assevera que pretende dividir o México dos Estados Unidos através da construção de um muro, o qual ainda deve ser pago pelos próprios mexicanos. É bem verdade que Trump realmente gostaria de ver esse muro construído, porém, se seu discurso apenas alvitrasse a construção do muro, certamente o México manifestaria sua repulsa indeclinável.
Porém, ao afirmar que além da construção as despesas seriam pagas pelos próprios mexicanos, o absurdo salta aos olhos principalmente na questão financeira da obra, ou seja, a repulsa dos mexicanos pode ser alterada para o fato de que Trump faça o muro se assim desejar, porém, com dinheiro exclusivamente norte-americano. Essa estratégia retórica utilizada por ele pode ser evidenciada em diversos outros discursos, mas somente saberemos suas reais intenções a partir de sua posse oficial.
A intolerância de Trump evidenciadas em suas declarações racistas, xenófobas, sexistas entre outras não foram objeto deste artigo pelo simples fato de abordarmos aqui somente alguns pontos que podem refletir diretamente no Brasil dentro de uma análise baseada em relações comerciais no âmbito do comércio exterior.
De qualquer forma, é impossível imaginar a figura de Donald Trump e não repercutir mentalmente algumas das barbáries já ditas por ele. Ao restante do mundo, resta-nos aguardar o ano de 2017, na torcida por um mundo com mais pontes e menos muros.