Quinta, 21 Novembro 2024

O deputado estadual Raul Marcelo (PSOL-SP) esteve em Santos na última semana e participou de um seminário que debateu os problemas ambientais atrelados ao surgimento do Porto Brasil, na cidade de Peruíbe (SP). Na ocasião, ele conversou com políticos, ambientalistas e com o público presente sobre os efeitos devastadores que uma obra de tal magnitude pode trazer ao ecossistema do Litoral Sul paulista

 

O maior temor de Raul Marcelo é que, com o novo porto, uma das últimas áreas com ligação direta da Mata Atlântica ao mar em São Paulo seja destruída. “Não podemos deixar isso acontecer de forma tão simples. Claro que tem gente que apóia o projeto, mas cada um tem sua ideologia”. Confira abaixo os principais trechos da conversa do deputado estadual com o PortoGente.

 

PortoGente: Por que o senhor não apóia o projeto Porto Brasil?

Raul Marcelo: Estou na Assembléia Legislativa para representar os interesses da população e o que eu tenho visto nos últimos meses é que muita gente apóia e, do outro lado, muita gente também se opõe com veemência ao projeto Porto Brasil. Eu entendo que cada um tem a sua ideologia, uns priorizam o emprego e o progresso em detrimento da preservação da natureza, mas não podemos deixar isso acontecer de forma tão simples.

 

PortoGente: Mas o Litoral Sul não ganharia muito com o Porto Brasil?

Raul: O que significa ganhar muito? Pouca gente sabe disso, mas o Brasil foi o país que mais cresceu no mundo nas últimas décadas e, na prática, só ganhou com isso o “prêmio” de ser apontado em rankings internacionais como o 4º país mais desigual do mundo, só perdendo para nações africanas. Nem sempre o lucro obtido por uns é distribuído a todos. E, ainda por cima, um porto em Peruíbe pode deteriorar uma parte importante de nosso meio ambiente.

 

Implantação do Porto Brasil modificaria perfil econômico e social de

Peruíbe, hoje baseado em uma economia veranista e na pesca artesanal

 

PortoGente: A LLX diz que o Porto Brasil preencheria lacunas comerciais. Já os ambientalistas discordam veementemente. Quem está certo?

Raul: Vamos lá. Quase ninguém fala, e eu não vejo isso na mídia, que o Porto Brasil ficará a menos de 70 quilômetros do maior porto da América Latina, o de Santos, que hoje movimenta 80 milhões de toneladas de cargas por ano e pode, sem grandes obras de expansão, suportar até mais 30 milhões de cargas, chegando a 110 milhões de toneladas a cada 12 meses. Então, qual a necessidade de se fazer outro porto, sendo que São Sebastião também será ampliado? Por que a empresa LLX não investe nesses portos que já estão ai e já prejudicaram o meio ambiente? Assim, o impacto seria menor.

 

PortoGente: Em seu entender, a construção do porto pode ser barrada?

Raul: Como deputado estadual, posso garantir que envolveremos a Assembléia Legislativa nesse processo de discussão do problema do Porto Brasil. Seminários, debates e reuniões são partes importantíssimas nesse processo. Não resolvem, por si só, o problema, mas ajudam a formular novas propostas e, assim, podemos ouvir a comunidade que vive lá e sabe, mais do que nós, qual a rotina de Peruíbe e as necessidades da população de lá. O povo discute o caso Isabella, fala de futebol em qualquer esquina, mas também precisa falar de Peruíbe e do que um porto pode causar lá.

 

PortoGente: E se a LLX rever algumas partes do projeto?

Raul: Sinceramente, não acredito muito nessa possibilidade. Claro que Peruíbe precisa de desenvolvimento, mas ele pode ser alcançado de outro modo. A cidade precisa debater várias vezes o assunto. Estamos em ano de eleição, a oportunidade ideal para uma ampla e irrestrita troca de idéias, de todos os lados. Temos que garantir um desenvolvimento que seja sustentável e atrelado à preservação do meio ambiente. Mesmo que a LLX contrate os melhores profissionais, eles não conseguirão convencer a todos, isso é normal. Precisamos envolver, de vez nesse assunto, a Funai, a SEP, o Consema, os mais variados órgãos. Pelo que conheço da política estadual de meio ambiente, será difícil o porto passar sem nenhuma mudança. Mas deixo um alerta: quem for contra o Porto Brasil, precisa estudar a questão, para argumentar com profundidade e consistência.

 

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