Situações banais, como complicações no interior da família, o luto e frustrações amorosas, são vistas de uma perspectiva sensível e até irônica na série
Com a ascensão de plataformas de streaming, o mercado do entretenimento passou por um crescimento vertiginoso nos últimos anos em todo o mundo. A partir delas, os seriados se fortaleceram como uma das principais ferramentas de lazer para os mais diversos públicos — desde crianças e casais até famílias e grupos de amigos.
Com diferentes temáticas e durações, os seriados agregam fãs, que se desesperam ao ouvir spoilers sobre a sua série favorita. Originária do termo inglês “spoil”, que significa “entregar”, a gíria “spoiler” se refere à situação de antecipar informações sobre alguma parte de uma obra de ficção, seja livro, filme ou série, para alguém que ainda não a viu ou leu.
Entre as séries que fizeram mais sucesso nos últimos anos, destacam-se aquelas que falam sobre as mulheres — tais como Orange Is The New Black, Anne with an E e The Handmaid’s Tale.
Em 2019, o Emmy Awards, maior e mais prestigiada premiação do mundo, destinada a profissionais e programas de televisão, destacou uma nova série nessa lista: Fleabag, trama inglesa que foi a grande campeã da 71ª edição do evento.
Trama
A série foi criada, escrita e estrelada por Phoebe Waller-Bridge, atriz e dramaturga britânica. A trama tem como protagonista uma mulher acima dos 30 anos que encara problemas em relacionamentos amorosos e familiares. Além disso, ela ainda precisa superar o luto causado pelo suicídio acidental de sua melhor amiga.
Essas situações banais e de forte impacto emocional, capazes de ocorrer com qualquer pessoa, conduzem a narrativa. A força da atuação de Waller-Bridge é um dos pontos altos da série. Com muita expressividade e forte identificação com a história da personagem, a atriz se encaixa muito bem no perfil deprimido e irônico da protagonista de Fleabag.
Técnicas da série
Outro destaque é que a série transforma cada espectador em um cúmplice, com quem a protagonista flerta, brinca e conta suas histórias. Denominada “quebra da quarta parede”, essa técnica proporciona a imersão de quem assiste à trama, causando-lhe a sensação de confiança e intimidade, o que contribui para a criação de empatia pela personagem.
Outra técnica fundamental para obter esse feito é o jogo de câmeras entre a protagonista e os telespectadores. É comum a personagem olhe para a tela sempre que faz uma declaração intimista, o que dá a impressão de que uma grande amiga está desabafando com você.
Drama e excentricidade
Com um drama tipicamente britânico, marcado por eufemismos como “isso não é tão ruim assim”, a série equilibra humor e melancolia. A história de Fleabag também é definida por cenas dramáticas mais clássicas, com uma mulher levemente descabelada chorando na rua com a maquiagem borrada.
Apesar da leveza, a série traz uma imersão sensível em temas delicados como o luto, a traição conjugal, depressão, aborto, suicídio, relações familiares, expectativas e frustrações emocionais.
Contudo, também é possível encontrar pitadas de humor ácido em diálogos, especialmente, entre a protagonista e seus familiares — pai, madrasta e irmã. Apesar do distanciamento provocado pela morte de sua mãe, ela nutre uma conexão forte com sua família, fundamental para todos os processos vividos pela personagem principal.
Muitas vezes, ela usa o sexo como uma maneira de ocupar o vazio interno provocado por diversos motivos, incluindo o relacionamento complicado com seus familiares. Isso faz o amor romântico ficar um pouco de lado na vida dela, sem, contudo, perder a sua importância.
Quem gosta de ver o amor retratado em suas diferentes faces, situações cotidianas triviais olhadas desde uma perspectiva sensível e até irônica, vai gostar dessa série. Se você é daqueles que não gostam de acompanhar uma história por longas temporadas, os 12 episódios de Fleabag, com 25 minutos de duração cada um, são perfeitos.
