Ulay marcou época no mundo artístico com sua parceria com Marina Abramovic
Autor de muitas obras de sucesso, Ulay acabou falecendo neste mês, em decorrência de um linfoma. Ele estava em tratamento na Eslovênia e deixa um grande legado artístico para trás. Entre seus trabalhos, destaca-se a sua parceria com a também artista performática Marina Abramovic, e as obras que produziram juntos.
Início da carreira artística
Ulay é somente o pseudônimo para Frank Uwe Laysiepen. Ele nasceu em Solingen, na Alemanha, em 1943, durante o fim do regime nazista. Começou a ser treinado no campo da fotografia até se tornar um consultor para a Polaroid, entre 1968 e 1971. Em 1970, mudou-se para Amsterdã e a carreira decolou de vez.
No período inicial de carreira artística, ele procurou entender melhor as noções de identidade e corpo nos níveis pessoais, especialmente, através de sessões fotográficas de polaróides, aforismos e performances. Já nesta nova etapa de sua carreira, ele começou a se relacionar cada vez mais com os aspectos performáticos, até mesmo no campo da fotografia.
Relação com Marina Abramovic
Foi somente em 1976 que ambos se conheceram e o efeito foi imediato. Começaram uma relação profissional e íntima que duraria pelos próximos 12 anos. Ambos trabalhavam muito em cima da questão dos limites do corpo, levando o outro ao extremo, e também nas noções do que é feminino e masculino. O companheirismo e proximidade entre os dois era tanto que criaram uma relação simbiótica na arte e seus trabalhos retratavam isso.
Em uma série de fotografias, ambos exploravam o limite nos relacionamentos. Numa de suas imagens mais conhecidas, Ulay segura uma corda de um arco, contendo uma flecha apontada para Marina. Naquele momento, qualquer movimento brusco ou impensado poderia causar um grave acidente, mas tudo ocorreu bem. A imagem faz parte da série Relation Works.
Em outro trabalho, ambos se estapeavam com cada vez mais força, mostrando a brutalidade e dificuldade de um relacionamento. Noutro, sentavam-se frente a frente e se encaravam por cerca de sete horas por dia.
A união terminou após uma série de desentendimentos, da maneira que mais combinava com a singularidade do casal: cada um começou uma caminhada em uma ponta da Grande Muralha da China. O encontro foi no meio, com cerca de 2500 km percorridos por cada, e poucas palavras ditas.
Vida pós Marina Abramovic
Após o fim da relação com a artista, Ulay voltou seu foco novamente à fotografia. Seus principais temas se tornaram o nacionalismo, a desigualdade social e o racismo presente na sociedade.
Após 22 anos sem ver a antiga companheira, ele decidiu surpreendê-la durante uma apresentação individual no Museu de Arte Moderna de Nova Iorque. Na peça, Marina sentava-se em uma cadeira e voluntários ficavam na frente dela, do outro lado da mesa. Ela não dizia nada, simplesmente trocava olhares. As reações eram das mais diversas possíveis.
Foi, então, que Ulay surgiu do meio da multidão e sentou-se à frente dela. Não falaram nada de início. Ele apenas soltou um leve sorriso e Marina começou a chorar. Ambos deram as mãos e conversaram um pouco.
Processo
Em 2015, Ulay processou Marina alegando não ter recebido o devido crédito em algumas de suas colaborações. Ele ganhou a causa, recebendo cerca de 250 mil euros.
Mas isso não afetou a relação entre ambos, já que ela disse que haviam se acertado logo após. Tanto que realizaram juntos uma última obra, o filme The Story of Marina Abramovic and Ulay, de 2017.
A artista sérvia lamentou, em seu Instagram, logo após saber da morte do eterno companheiro: “Ele era um artista e um ser humano excepcional, que fará muita falta.”