Luiz Alberto Costa Franco é engenheiro civil, ex-diretor da Companhia Docas do Estado de São Paulo (Codesp) e consultor de dragagem. Foi chefe do serviço de dragagem do Porto de Santos e é colaborador do Portogente
A esta altura, parece-nos desnecessário dizer que o enfoque dado na 14ª edição do “SANTOS EXPORT” fez jus ao interesse coletivo na solução desse assunto.
Além do consenso de que a regularidade desses serviços é primordial para a própria economia do País, algumas questões envolvidas merecem, no mínimo, uma pequena pausa para reflexão, ponderação e sobretudo ação. Embora estejam intimamente ligadas cremos ser importantíssimo individualiza-las e discuti-las separadamente. Assim, faremos algumas observações pertinentes referentes à: Erosão da Ponta da Praia; Restrições à dragagem pretendida pelo Ministério Público; Obras fixas destinadas à mitigação desses efeitos, e; Profundidade de dragagem para -17m, propostas por Operadores Portuários.
Erosão da Ponta da Praia
O professor titular em Obras Hidráulicas Fluviais e Marítimas da Escola Politécnica da Universidade de São Paulo Paolo Alfredine, afirmou naquela oportunidade que: “As obras de dragagem do porto de Santos são responsáveis por menos de 4% das causas de ressacas na cidade.”, e conclui dizendo que; “É um valor desprezível perante a ocupação urbana que se deu ao longo de mais de um século na orla de Santos, ocupando suas praias de forma como foram ocupadas reduzindo a quantidade de areia disponível para manter as larguras das praias”.
Realmente, conforme o reporte que fizemos à SEP/PR, em julho/2011, a pesquisadora do Instituto Geológico do Estado de São Paulo Célia Regina de Gouveia Souza apontava que “as praias de Santos guardam a influência de uma herança de varias intervenções que modificaram a dinâmica de sedimentação. Até o século 19, predominavam na orla santista transportes litorâneos (correntes de deriva) de baixa intensidade, no sentido Ponta da Praia – José Menino”. Dentre as intervenções apontadas tais como: construção dos canais de drenagem; aterramento do tombolo da Ilha Porchat; implantação do espigão do Emissário Submarino uma merece destaque – a construção de estruturas rígidas sobre a pós-praia (zona superior da praia) na Ponta da Praia.
Por outro lado, a também estudiosa do assunto, Sâmara Pinto Souza, em trabalho elaborado para o Centro Universitário Estadual da Zona Oeste – UEZO Curso Superior de Tecnologia em Construção Naval – CoTCN, Rio de Janeiro 2011, diz que “pode-se definir 3 tipos de arrebentação: em derrame (deslizante), em espiral (mergulhante) e em vagalhão (ascendente)” e ainda que: “Embora ventos e correntes possam ter algum efeito no tipo de arrebentação que uma onda originará na linha de costa, a principal influência será mesmo da topografia do fundo.”
Arrebentações tipo vagalhões (ascendente), cuja ocorrência se dá em praias de declividade tão alta que a onda não chega a quebrar propriamente, ascendendo sobre a face praial e interagindo com o refluxo das ondas anteriores dando origem aos “CLAPOTIS”. Clapotis é expressão francesa para o fenômeno de onda estacionária associada com a reflexão, a partir de uma superfície vertical, de um trem de ondas oceânicas, como um quebra-mar ou cais. Assim, uma frente de onda ao encontrar um obstáculo “vertical” reflete, originando uma onda de retorno cuja amplitude se somará à amplitude da onda que a sucede na distância de uma vez e meia o seu comprimento.
Observa-se, também, que no retorno da onda podem ocorrer erosões dependendo do tipo do material de fundo (granulometria).
Coincidentemente, sem qualquer correlação aos fatos noticiados em Santos, a Associação Brasileira de Geologia de Engenharia e Ambiental, ABGE, apresentou em conjunto com o IPT- Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, no dia 22 de julho de 2011, uma Palestra sobre o tema: EROSÃO COSTEIRA- Fenômeno e Instrumento de Análise- ministrada por António Trigo Teixeira, professor titular do Departamento de Engenharia Costeira e Portuária do Instituto Superior Técnico (IST) da Universidade de Lisboa, desde 1994, com mestrado pelo IST e doutorado pela University College of Swansea do Reino Unido.
Cabe o registro que em nenhum momento, durante a palestra, foi questionado o regime de ondas incidentes à costa, pelo fato de esse regime não ter origem local. As obras elencadas para reduzir o efeito de erosão, em grande escala, têm por objetivo diminuir o efeito das correntes e não das ondas, como sugerem varias manifestações publicadas.
Ora, admitindo-se as manifestações anteriores e considerando que a dragagem, ao aumentar a seção do canal reduzindo a intensidade da corrente contribuiria, na verdade, na redução de erosões e até mesmo provocando assoreamentos pontuais. Certo?
No nosso caso ERRADO!
Impressiona-nos a manifesta e constante preocupação dos efeitos da dragagem no trecho retilíneo do Canal da Barra, enquanto que os efeitos deletérios dessas atividades tem origem a montante da curva entre os Alinhamentos A e C do canal de acesso.
De fato, ao se alargar o canal dragando o baixio (banco) existente nas proximidades do trecho entre o Entreposto de Pesca e a Ponte Edgard Perdigão, na margem direita do canal, aproximou feixes de correntes à margem direita (litoral) alcançando profundidades que não eram atingidas em razão da deflexão que ocorria em face das baixas profundidades daquele banco. Assim, os materiais finos, de baixo peso específico, em suspensão resultante dos efeitos dos Clapotis, são transportados no sentido Ponta da Praia – José Menino, mais celeremente e em maiores quantidades.