Quinta, 18 Abril 2024

Comunidades dos bairros próximos das áreas onde seriam erguidas as obras ainda não conhecem os projetos da ponte e do túnel

O governo do Estado está buscando finalizar o projeto da ponte da Ecovias (ligação seca entre as duas margens do Porto de Santos) para aprová-lo junto à Autoridade Portuária e ao Ministério da Infraestrutura. No entanto, o projeto ainda não foi apresentado às comunidades situadas no entorno do local onde a obra seria erguida. Ao mesmo tempo, defensores do projeto do túnel lançaram este mês uma campanha em defesa do modal como uma alternativa melhor para a travessia do canal do Porto em Santos.

Marcia Ponte

Com a proposta de atrair adeptos para uma ligação imersa, a campanha Vou de Túnel quer informar a população da Baixada Santista sobre as vantagens do modal tanto para o Porto quando para as cidades de Santos e Guarujá.

Uma pesquisa realizada pelo Instituto Brasileiro de Pesquisa e Análise de Dados (IBPAD), em fevereiro, para a campanha Vou de Túnel, apontou que cerca de 39% dos moradores de Santos e Guarujá se sentiam mais ou menos informados sobre a proposta de ligação seca entre as duas cidades, 27% afirmaram se sentir pouco informados e 19%, nada informados. Do total de entrevistados, mais de 70% desconhecem a localização do túnel e da ponte. Dos que disseram conhecer a localização, apenas 3% informaram a localização correta de cada projeto.

A campanha Vou de Túnel divulga que o Projeto original do túnel, desenvolvido pela Dersa, empresa controlada pelo Governo do Estado de São Paulo, foi aprimorado. A Autoridade Portuária de Santos atualizou o traçado em 2019 para reduzir a necessidade de desapropriações e baratear o custo da obra. O túnel atende à demanda da mobilidade urbana (integra ônibus, VLT, atende a ciclistas, pedestres e skatistas) e à demanda de viagens entre as margens do Porto, diz o site da campanha. Já a ponte é voltada para veículos e caminhões.

Marcia túnel

As instituições e empresas que se associaram em torno da campanha Vou de Túnel, como a Associação dos Engenheiros e Arquitetos de Santos e representantes do setor portuário, defendem que o modal vai permitir maior economia de combustível, menos trânsito na balsa, maior segurança na navegação, menor poluição, é mais moderno e tem menor impacto ambiental.

Já o projeto da ponte pode ser conferido clicando aqui. A coluna vem tentando ouvir o governo do Estado e a Ecovias sobre as vantagens e desvantagens do modal e sobre a possibilidade de um debate com a comunidade sobre o tema, mas não tem obtido retorno.

A ponte tem o custo viabilizado pela Ecovias, em troca da prorrogação da concessão da rodovia Anchieta-Imigrantes, enquanto o túnel ainda não conta com recursos para sua construção. O valor das duas obras, em termos de custo, quase se equipara, mas o custo-benefício do túnel é superior, segundo o engenheiro Tarcísio Celestino, autor do projeto, já que a ponte é um projeto mais voltado para atender à logística (principalmente dos caminhões), enquanto o túnel tem como finalidade também a mobilidade urbana.

Informação precisa circular nas comunidades
A coluna conversou com as comunidades da Alemoa, Vila dos Criadores, Jardim São Manoel e Saboó, localizadas nas áreas próximas onde se planeja erguer a ponte da Ecovias, e nenhuma delas afirma conhecer o projeto e o impacto que a obra vai promover entre elas – quais os benefícios para a mobilidade e a logística urbana, quais as possibilidades de adensamento de trânsito e poluição nos bairros, por exemplo? Estes foram alguns pontos levantados durante audiência pública sobre o projeto, ano passado. A Ecovias e o Governo do Estado ainda não se reuniram com as comunidades para discutir o tema e apresentar detalhes do projeto, alegam os representantes de bairros. Da mesma forma, a comunidade do Estuário, local proposto para se instaurar o túnel, também não conhece o novo projeto.


De acordo com Ana Bernardo, presidente da Sociedade de Melhoramentos da Vila Pantanal - Saboó, o projeto da ponte foi apresentado na Secretaria de Educação de Santos, durante a divulgação do projeto Santos Novos Tempos, explicou. “Eles [autores do projeto] chegam com o projeto pronto”, disse a presidente, salientando o temor de que quem tem comércio no bairro possa perder seu ponto, por conta das obras que vão modificar o local.

O ideal seria a comunidade conhecer o projeto da ponte e do túnel, ressalta. “É maravilhoso ter a ligação seca, pois é preciso desenfrear a passagem do Guarujá. Mas o projeto da ponte vai impactar as famílias, como a entrada de Santos, nos bairros Chico de Paula, Saboó, enquanto o túnel vai sair do Estuário, do Macuco.” A Sociedade dos Melhoramentos da Cila do Pantanal é uma das apoiadoras da Campanha Vou de Túnel.

André Leandro da Silva Nascimento, diretor da Sociedade de Melhoramentos do Jardim São Manuel, afirma que não conhece o projeto da ponte e que a comunidade também não foi informada sobre a obra. Ele lembrou que o bairro já sofre com o alto trânsito dos caminhões e imagina que a situação possa se agravar com a ligação seca proposta pelo governo estadual. “Criar uma ponte em cima do bairro da Zona Noroeste, aumentando o fluxo de carros, a poluição, mexendo na logística... Há os que lucram com a brincadeira toda, mas as pessoas ficam de fora.”

A expansão do Retroporto, segundo ele, também já vem afetando o bairro. Há uma tendência de as pessoas deixarem o bairro, que está se transformando em um dormitório, cada vez mais tomado pelas oficinas mecânicas e por pátio de caminhões. Segundo ele, muitos moradores, sem regulamentação fundiária, têm vendido suas casas a preços baixos. Falta conciliar planejamento portuário com a vida dos moradores do bairro, acredita.

Sobre o projeto do túnel, ele aponta não conhecer o novo traçado, mas afirma ter participado do debate para evitar a desapropriação das famílias do local quando da primeira versão do projeto. Ao lembrar que recentemente quase 30 famílias da região do Jardim Piratininga, bairro próximo ao Jardim São Manuel, foram intimadas a deixar o local em um processo de reintegração de posse solicitado pela Ecovias, o líder comunitário criticou a busca do progresso com base no desequilíbrio ambiental. Falta, na opinião dele, pensar o desenvolvimento sustentável da cidade.

Os moradores da Vila dos Criadores, na Alemoa, também não conhecem o projeto da ponte da Ecovias e nem do túnel. A concessionária não teria procurado a Associação de Moradores para apresentar a obra, segundo o secretário da Associação de Moradores da Vila dos Criadores, Thiago Lisboa.

O presidente da Associação Comunitária da Alemoa, José Inácio Leite, também afirma que a comunidade não conhece os dois projetos de ligação seca. “Seria bom se a comunidade pudesse opinar”, diz. Outro líder bastante atuante na região, Givanildo Batista, ex-presidente da Associação Biblioteca Contêiner da Alemoa e atualmente licenciado para candidatar-se a vereador, diz que o projeto da ponte foi apresentado brevemente pela concessionária: “Quando a Ecovias discutia a Nova Entrada de Santos teve uma audiência pública e se falou da ponte com alguns presidentes de bairro da Zona Noroeste. Mas a Ecovias nunca falou com a comunidade.”

Batista afirma conhecer bem o projeto da ponte e critica as limitações que o projeto pode trazer para a navegabilidade no Porto e também os impactos da obra nos bairros da Zona Noroeste, principalmente no trânsito. E cita que a obra não traz contrapartidas sociais para a comunidade. O dirigente também não conhece o atual projeto do túnel.

A líder comunitária da Associação dos Moradores do Estuário, Rosana Saldeli, também não conhece o novo projeto do túnel - apenas o antigo, que previa desapropriações na região. “Se for túnel, fora de cogitação, vai causar desapropriação, e vamos voltar a nos manifestar”, disse ela, baseando-se nas informações do antigo projeto do túnel. Quanto ao projeto da ponte da Ecovias, afirma conhecer apenas o que é divulgado na mídia.

A coluna também buscou ouvir a Associação dos Moradores de Chico de Paula, mas a instituição foi desativada.

Debater para melhor decidir
A fala dos moradores das comunidades expõe a necessidade de debate aberto sobre os projetos da ligação seca, algo fundamental para que as pessoas possam entender qual é a melhor opção para resolver os problemas de logística e mobilidade, melhorando o cotidiano tanto da cidade quanto do Porto de Santos.

Em uma sociedade democrática, a sociedade planeja, junto com o Estado, o desenvolvimento local, buscando as melhores soluções para o transporte não só de cargas, mas de pessoas.

Algumas informações divulgadas pela campanha Vou de Túnel para comparação entre os projetos da ponte e do túnel:

Marcia quadro 20JUL2020

Marcia editada* Jornalista, fotógrafa, pesquisadora, docente, pós-doutora em Comunicação e Cultura e diretora da Cais das Letras Comunicação. Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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