Sexta, 25 Abril 2025

Os aposentados são maioria em grande parte dos sindicatos e entidades que representam categorias de trabalhadores na região. Apesar de já terem vivido o cotidiano de trabalho de sua classe, eles são o foco de uma discussão sobre se os trabalhadores que não estão mais na ativa deveriam exercer o poder de voto nas eleições sindicais.

 

O Sindaport (Sindicato dos Empregados na Administração Portuária) não foge à regra e, como os demais sindicatos, possui uma vasta quantidade de idosos em seu quadro de associados. De acordo com o presidente reeleito da entidade, Everandy Cirino dos Santos, há cerca de 4200 sócios com suas contribuições pagas em dia, sendo que o número de aposentados associados gira em torno de 3000. Tal dado significa que 70% dos membros votantes do sindicato já não estão mais na ativa.

 

Cirino afirma que o direito de voto por parte dos aposentados é uma prática comum e, portanto, não é uma exclusividade do Sindaport. “Porém, na reestruturação política que pretendemos aplicar em breve, esse cenário pode ser alterado”, ressalta o presidente do sindicato sobre a possibilidade de que somente tenham o direito de votar os trabalhadores associados que estão na ativa.

        

“Trabalhador tem que votar em associação de trabalhador e aposentado em associação que represente somente os aposentados”. Esta é a posição do presidente da Anapi (Associação Nacional dos Aposentados, Pensionistas e Idosos), Antônio Carlos Domingues da Costa. Ele lembra que o voto de aposentado para eleger dirigentes sindicais é uma prática antiga, mas que é contra essa atividade.

        

Para realçar sua posição, Antônio Carlos, que também preside o Atmas, associação que representa os aposentados das mais diversas categorias e abrange os litorais Norte e Sul do Estado de São Paulo, afirma que o sindicato existe para debater e batalhar por questões trabalhistas, como dicídio e boas condições de trabalho. Dessa forma, não tem sentido os aposentados votarem em pessoas que irão discutir benefícios que não lhe dizem mais respeito. “Para aposentados, há outras entidades que os representem”, diz Antônio Carlos, lembrando que o ‘negócio’ dos aposentados é com o Governo, mais especificamente com a Previdência Social.

        

O presidente da Anapi conta que para se associar a um sindicato é necessário que o trabalhador esteja na ativa, ou seja, o aposentado hoje sindicalizado já viveu o dia-a-dia de trabalho da categoria. Porém, no momento em que pára de trabalhar, se distancia das questões trabalhistas. “Se para entrar no sindicato é necessário que seja da ativa, é óbvio que para votar e eleger seus representantes é preciso que o trabalhador ainda esteja na ativa”, argumenta Antônio Carlos, ressaltando que, embora seja contra o voto dos aposentados, acredita que esse segmento de associados deve receber os benefícios até mesmo sem precisarem contribuir com dinheiro para a entidade.

        

Antônio Carlos diz que, embora haja o aspecto da democracia e da contribuição financeira, é necessário separar os tipos de trabalhadores, até porque os aposentados são maioria no quadro de associados do sindicato e os dirigentes eleitos podem não refletir a vontade dos trabalhadores. “E os aposentados são maioria porque há muitos presidentes que se elegem usando o voto dessa camada de associados”, denuncia Antônio Carlos, afirmando ser a favor de que o trabalhador da ativa esteja à frente das representações sindicais: “Tem muito aposentado tirando lugar de trabalhador e, além disso, aposentado não sabe nada da ativa; aposentado tem que votar nas suas categorias e associações próprias”. 

        

Opinião do “povo” - Para o bibliotecário e diretor do Sindicato dos Auxiliares de Administração Escolar de Santos, Marcílio Ignácio, os aposentados devem votar porque já estiveram trabalhando com a categoria e, também, porque usufruem tudo o que a classe consegue por meio do sindicato. “E se o associado paga, ele deve votar, mesmo que seja aposentado”, ressalta Marcílio, lembrando que a contribuição financeira do grande número de aposentados é um importante rendimento para os sindicatos que, em sua maioria, sofrem com a falta de verba.

        

Já entre os aposentados, as opiniões sobre o assunto são divergentes. José Luís Ferreira conta que já trabalhou na estiva e diz ser a favor de que os aposentados votem para escolher os representantes sindicais de suas classes. “Se for para não votar, que excluam os aposentados dos sindicatos de uma vez”, comenta Ferreira. O também aposentado Alexandre Gomes Fagundes, por sua vez, é contra o voto dos aposentados nas eleições sindicais. “Os problemas e necessidades dos trabalhadores são diferentes dos problemas e necessidades dos idosos”, argumenta Fagundes.

        

Apesar de toda divergência em torno do assunto, Antônio Carlos diz que a única coisa importante, seja para o trabalhador, seja para o aposentado, é conscientização. “O problema não é votar, e sim lutar por direitos. É só se organizar e reivindicar ordenadamente que não precisa nem de sindicato para conquistar o que almeja”. Finaliza o presidente da Anapi.

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