
Esmeralda foi nomeada despachante aduaneira pelo presidente da República, Getúlio Vargas, em Porto Velho, em 1933. Na época, Porto Velho pertencia ao Estado do Amazonas. Foi a única mulher brasileira despachante aduaneira, por 30 anos, até serem nomeadas Maria Dilza Prieto Rios, em Santos, e outra mulher no Rio, em 1963.
Nascida em 04 de maio de 1903, em Porto Velho, filha de portugueses, casou-se com o despachante aduaneiro José Penha, em 1918. Porém, seu marido adoeceu e a família mudou-se para o Rio de Janeiro, em busca de tratamento, em 1938. José Penha morreu seis meses depois. Com a morte do consorte, Esmeralda, mãe de oito filhos, teve que continuar batalhando sozinha para sustentar a família.
No Rio de Janeiro, não havia vaga para Esmeralda exercer a profissão, ela deveria optar pela transferência para os portos de Salvador (Bahia) ou o de Santos (São Paulo). Escolheu o porto de Santos porque já era o maior do Brasil e, conseqüentemente, apresentava maior campo de trabalho.
Esmeralda se desdobrava entre a criação dos filhos, que tinham entre 3 e 18 anos, e o trabalho. Um ano depois de sua chegada a Santos, explodiu a 2ª Guerra Mundial.
Na primeira metade do século 20, Esmeralda era uma das poucas mulheres que trabalhavam fora de casa. O serviço profissional era praticamente diário, pois nos fins de semana atracavam três ou quatro navios, com um total de 3 mil passageiros que precisavam da atuação do despachante aduaneiro. Esmeralda tinha que atender a todos, muitas vezes, virando noites, sem dormir.
O pós-guerra deixou uma Europa devastada e um mar de recessão econômica. Com isso, cresceu a imigração no Brasil, de italianos, espanhóis, portugueses, alemães e também de asiáticos, como japoneses, chineses e, mais tarde, de coreanos, a partir de 1952.
Esmeralda trabalhou durante 25 anos no Armazém de Bagagem. Atuava na liberação dos imigrantes, famílias inteiras, na maioria com poucos recursos, sem poder pagar tributos que, às vezes, o rigor da lei determinava. Conseguiu a redução ou isenção dos tributos para esses imigrantes, não cobrava honorários e pagava refeições aos mais necessitados.
Em agosto de 1963, Esmeralda e os filhos criaram a Eudmarco S.A Serviços e Comércio Internacional, pioneira no Brasil, em 1967, na área de entreposto aduaneiro. Outro pioneirismo da empresa foi o estabelecimento do Terminal Rodoferroviário Alfandegado (Teral), em 1978, precursor dos Terminais Retroportuários Alfandegados (TRAs).
Esmeralda se aposentou em fevereiro de 1976, após 43 anos de trabalho, deixando a direção da empresa para os filhos e netos. Esmeralda faleceu em 25 de agosto de 1981, aos 78 anos.
Fonte de pesquisa: Reportagem publicada no Jornal A Tribuna de Santos, de 26 de março de 1994.
“Mas é preciso ter força, é preciso ter raça, é preciso ter gana, sempre.
Quem traz no corpo a marca Maria Maria, mistura a dor e a alegria.
Mas é preciso ter manha, é preciso ter graça, é preciso ter sonho, sempre.
Quem traz na pele essa marca possui a estranha mania de ter fé na vida”.
(Milton Nascimento e Fernando Brant)