Segunda, 25 Novembro 2024


José Carlos Neves Lopes


Em 12 de fevereiro de 1954, o soprano paulista Constantina Araújo (1922-1966), subia ao palco do Teatro Nacional da Ópera (Palais Garnier) para interpretar aquele que foi um dos principais papéis de sua carreira, o de “Rezia”, na ópera em 3 atos, “Oberon” (1826), de Karl Maria von Weber (1786-1826).

Era a primeira encenação dessa ópera em Paris. A récita inicial foi beneficente e o espetáculo contou com a presença do recém-empossado presidente da República Francesa, René Coty e esposa. A direção de cena esteve entregue a Maurice Lehmann, que se tornou conhecido por sua atuação como diretor de teatro, cinema e ópera. Os principais intérpretes foram: Constantina Araújo, o tenor sueco Nicolai Gedda, em início de carreira, Roger Bourdin e Denise Duval. No comando da orquestra, o famoso regente francês André Cluytens.

Estavam previstas 4 récitas, no entanto, o sucesso foi tamanho que acabaram sendo realizadas 30!

Constantina, que chegava em Paris carregada de êxitos obtidos em diversas capitais européias, foi recebida pela alta sociedade parisiense, em recepção à qual estiveram presentes o presidente da delegação brasileira na UNESCO, várias personalidades brasileiras, críticos e músicos franceses, dentre os quais o compositor Florent Schmidt.

A crítica musical foi plena de elogios ao soprano paulista, dentro os quais destacamos:

“A parte de “Rezia” goza da justificada reputação de ser uma das mais ingratas. Ela oferece três momentos essenciais e de caráter tão diferentes, que é necessário uma cantora que disponha dos mais variados recursos para nela se mostrar perfeita: a visão, no primeiro ato, que é um murmúrio de suavidade e de ternura, a ária do segundo ato, com a maldição do oceano, toda de violência e desespero, e finalmente a cavatina do terceiro ato, repleta de lamentações ardentes. A Sra. Constantina Araújo possui uma voz esplêndida e sabe usar dela para salientar todo o patético, toda a sedução da personagem.”
- Crítico e musicólogo René Dusmenil, em “Le Monde”, de 17/2/1954(transcrito de O Estado de S. Paulo) “Deixamos para o fim a admirável soprano dramática Constantina Araújo. Pode-se dizer que é a cantora de teatro mais completa que se ouviu em Paris depois de Kirsten Flagstad. Riqueza de uma voz imensa, que ela conduz com técnica muito segura, quer quanto à agilidade, quer quanto ao volume, sensibilidade dramática, prestígio de uma presença cênica inegável, tudo concorre para torná-la a verdadeira revelação do espetáculo.”Semanário “Arts” - (transcrito de O Estado de S. Paulo, 4/4/54)

“As vozes são belas. A da Srta Constantina Araújo é de brilhantismo magnífico, volumosa e brava. Apenas deixou a desejar nos meio-tons, onde precisamente se salienta seu parceiro Nicolai Gedda.” - Marc Pincherie - (transcrito de "O Estado de S. Paulo").

Assim transcorreu a passagem do mais famoso soprano paulista pela Ópera de Paris. 

  O professor José Carlos Neves Lopes é diretor técnico de serviço da Secretaria de Estado da Educação.  Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.

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