O bom filho a casa torna, diz o ditado. E esse "a" não tem crase, aprendi hoje. Porque não é uma casa determinada, é genérica. Na Bíblia, o bom filho volta sem a herança. Gastou tudo o que tinha recebido do pai. Mesmo assim é recepcionado com festa.
Não cabe a mim estabelecer se sou um filho suficientemente bom nesse retorno ao PortoGente. Cabe só deixar claro que estou feliz por estar voltando. Uma porque sempre tive saudade desse contato semanal com a comunidade portuária. E outra porque desde o início o portal, pelo nome, deixava clara a preocupação com a inovação social, tão importante quanto a tecnológica. Preocupação com a gente que participa direta ou indiretamente da atividade portuária. Preocupação cada vez mais presente e necessária para a governança e a sustentabilidade que o mundo atual exige.
Nasci familiarizado com o Porto de Santos. Tenho pai e avô materno portuários. Nos anos 90, participei como coordenador, por uma consultoria externa, do projeto de informatização dos suprimentos da Codesp. 200 mil itens especificados. Também nessa década tive uma passagem pelo curso de engenharia civil da Católica de Santos como professor da disciplina Portos, Rios e Canais. Está aí o meu currículo.
Uma coisa é certa. Não gastei a herança que o PortoGente me legou. Porque se trata de um acervo constituído de relacionamentos e de conhecimentos adquiridos. Ou seja: um patrimônio imunizado contra qualquer tendência de filho pródigo à gastança.
Lembro até hoje de uma sábia correção que me foi feita por um portuário veterano. Eu, atento às questões da integração metropolitana, designava o porto como de Guarujá, Cubatão e Santos e alternava a ordem dos municípios ao longo do texto. Ele ligou para mim, e com muita paciência, explicou que ainda que isso seja verdade, e que o porto pertença realmente às três cidades, ele tem uma marca nacional e internacionalmente conhecida: Porto de Santos. Entendi e reformulei.
Volto num outro momento. O Porto de Santos se aproxima da movimentação de 200 milhões de toneladas por ano. A integração com as cidades alcançou outro patamar de qualidade. Mas problemas antigos resistem ao tempo e permanecem atuais.
Em algum momento entre a segunda metade de 2007 e o final de 2010, o então ministro da Secretaria Nacional de Portos, Pedro Brito, pediu que o consultor portuário Fabrizio Pierdomenico definisse o principal problema do Porto de Santos com uma única palavra. Ele respondeu prontamente: "acesso". Passados pelo menos 15 anos, a resposta seria exatamente a mesma.
O modal ferroviário aumentou a porcentagem de participação. O planejamento da vinda de caminhões pelo sistema Anchieta-Imigrantes se aprimorou. Uma série de ideias para projetos rodoviários, ferroviários e dutoviários está em desenvolvimento. Mas o gargalo do acesso segue ameaçando o crescimento da movimentação de cargas.
Está agendada para terça-feira, dia 18/11, a definição do modelo de leilão do gigantesco Terminal de Contêineres Santos 10. Está em andamento a preparação do início da obra do túnel Santos-Guarujá. O Parque Valongo substituiu a visão desanimadora do abandono dos armazéns daquela área. A pera ferroviária e o remanejamento do terminal de passageiros vão dar um sopro de racionalidade no centenário cais de Santos.
Vamos estar conversando sobre tudo isso todas as semanas aqui no PortoGente a partir de agora. O filho está retornando. Quem vai dizer se ele merece o rótulo de "bom" é você.







