Segunda, 23 Dezembro 2024

La Spezia, Savona e Gênova, portos ao longo de uma costa de 150 km a nordeste do Mar Mediterrâneo, são atualmente apresentados e vendidos como uma unidade portuária (Portos da Ligúria). Movimentam, juntos, anualmente, mais de 90 milhões t, 3,3 milhões de TEUs e 4,7 milhões de passageiros. Se orgulham dos avanços dos últimos anos: Certificação ISO-14.001 (2005), articulação intermodal (principalmente com a malha ferroviária e com uma rede de plataformas logísticas cujo hinterland abrange vários países europeus), parceria entre suas autoridades portuárias, modernização tecnológica e gerencial de suas infraestruturas: Todos fundamentos justificadores do acelerado crescimento das suas movimentações.

Mas nem sempre foi assim... ao longo de uma multi-milenar história de transformações (a comprovar o caráter vivo, dinâmico dos portos!) de suas economias e de suas comunidades.

Além dos nativos da região, que remontam à Idade do Ferro, por ali passaram etruscos, romanos, espanhóis, franceses ... fascinados pela região, particularmente pelo Golfo de Spezia (“um abismo que tem a aparência de um grande fiorde”, com 4,6 X 3,2 km). Todos contribuíram, também, para uma rica história de conflitos, guerras e competição comercial - majoritariamente dominada por Gênova; com seu apogeu no período dos descobrimentos até as emigrações para o “novo mundo”.

Foto: Ligurian Ports

Imagem aérea do Pier Garibladi, no Porto de La Spezia

La Spezia tornou-se parte da República Democrática da Ligúria (com a queda da genovesa) em 1797. No século XIX a construção de um arsenal militar (inaugurado em 1869) passou a balizar sua vida... e do seu porto; uma das razões porquê ela foi intensamente bombardeada durante a II Guerra Mundial.

A história das transformações portuárias no passado recente (suas causas, estratégias e implicações) são bem menos claras e explicitadas. Aos fatos:

Em 1994 foi promulgada uma nova lei portuária na Itália. Como a brasileira, e na linha do “landlordismo”, teve como um dos seus pilares a descentralização – base para a regionalização das 3 Autoridades Portuárias.

Na virada desta século, o antigo porto militar é desmobilizado para ser transformado em um porto comercial; com um ambicioso projeto de requalificação do seu waterfront – com redefinição e avanço da linha de costa, seguindo tendência internacional atual.

Mesmo com contestações, sem ser uma unanimidade e enfrentando ações administrativas e judiciais, uma delegação foi celebrada com a “Speter Spa” para, em caráter monopolista, explorar o limitado “Cais Garibaldi” com certo grau de “flexibilização” (essencialmente no tocante à contratação e gestão da mão-de-obra): projeto de modernização está em curso.

Em curtíssimo prazo La Spezia passou a movimentar mais de 1,3 milhões de TEUs/ano (94º do ranking mundial da “Containerization International”; 40% da tríade portuária)... e segue crescendo aceleradamente.

Savona e Gênova, com certo retardo, passaram a “flexibilizar” suas gestões e suas operações.

Esses são fatos!

A boca pequena (“off the records”) diz-se que La Spezia foi meio que um “boi de piranha” para forçar os outros 2 à “flexibilização”; e um “benchmarking” para romper a inércia da recalcitrante Gênova!?!?!

"Se non è vero, è ben trovato" !

Ante a nova etapa das Reformas Portuárias brasileiras, agora balizadas pela Lei nº 12.815/13, seria importante que os sindicatos laborais e empresariais (eventualmente também os governos!) buscassem obter a versão de seus pares italianos…

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