O atraso no escoamento da supersafra brasileira de soja – que deve render mais de 80 milhões de toneladas pela primeira vez – deixa os portos de exportação cercados de navios e concentra um volume cada vez maior de grãos nas regiões agrícolas. Em Paranaguá, o número de embarcações ao largo chegou a 89 e mais 21 são esperadas até amanhã. Dos navios que já chegaram, mais de 70 vão carregar grãos e farelo de soja. Em Santos, o cerco é de 81 unidades, metade graneleiros.
O intenso tráfego no mar anuncia que as rodovias também vão receber sobrecarga nas próximas semanas. Os navios enfileirados e com viagem confirmada a Santos e Paranaguá devem levar 9,1 milhões de toneladas de grãos para países importadores (ao menos 10% da colheita de soja). Para transportar esse volume, são necessários 148 mil viagens de caminhão até o porto paulista e 80 mil até o paranaense, onde o embarque depende basicamente das rodovias.
O problema do acúmulo de navios no horizonte de Paranaguá tradicionalmente ocorre pela falta de estrutura. Porém, neste ano, a fila é também reflexo da grande quantidade de navios que chega a Paranaguá antes da hora e sem contrato. Segundo a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa), apenas quatro (6%) das 70 embarcações posicionadas no Corredor de Exportação têm a totalidade de carga à disposição, enquanto outras 13 (19%) estão com carga parcial contratada. Assim, 53 não possuem qualquer programação definida.
“Foi alardeado para todos os cantos do mundo que o Brasil teria a supersafra de milho e soja. Os navios chegam a Paranaguá sem carga, mas sabendo que serão contratados”, afirma Nilson Hanke Camargo, assessor técnico e econômico da Federação de Agricultura do Paraná (Faep).
Para o superintendente da Appa, Luiz Henrique Dividino, “a crise mundial gerou sobra de navios”. “Os embarcadores estão se posicionando onde tem movimentação de mercadoria”, avalia. Para administrar o congestionamento, a Appa só autoriza navios com carga total à disposição para atracar. Nem mesmo carregamentos parciais são autorizados. “Eles negociam a carga durante o período de espera. Há navio liberado para carregar dia 15 de maio”, cita Dividino.
No ano passado, a fila de embarcações no litoral paranaense ultrapassou os 100 navios no dia 22 de junho. Neste ano, esse pico deve ocorrer antes, nesta semana. Isso porque os embarques devem sofrer interrupçõesainda hoje devido à chuva. Até o fim de semana, Paranaguá deve receber 40 milímetros de precipitações, conforme a consultoria Clima Tempo.
Mesmo com a grande quantidade de navios em Paranaguá, principal porta de saída da produção brasileira, as exportações de soja seguem baixas. Nos dois primeiros meses do ano, 960 mil toneladas da oleaginosa foram enviadas ao exterior, 63% menos em relação ao mesmo período do ano passado (2,6 milhões de toneladas).
Comunicação
Operação Safra tenta evitar congestionamento
O excesso de navios na baía de Paranaguá à procura de carga deve gerar uma corrida no envio da produção de grãos nas próximas semanas. Somente para atender os 54 navios graneleiros, entre “estacionados” ao largo e esperados nas próximas 48 horas, seria necessário que 80 mil caminhões carregados descessem simultaneamente a serra em direção ao litoral do estado.
Na tentativa de evitar a fila de caminhões ao longo da BR-277, estrada que liga a capital ao litoral, a Administração dos Portos de Paranaguá e Antonina (Appa) está orientando motoristas sobre as novas regras do sistema Carga Online.
De acordo com diretor empresarial da Appa, Lourenço Fregonese, caminhoneiros que não fizerem o cadastro antecipado no sistema não poderão descarregar. “O porto é um local de passagem do cereal. Se você mandar carga para Paranaguá sem programação entope o porto, que tem capacidade de um milhão e meio de toneladas”, afirma.
Ainda segundo o executivo, o problema da falta de armazéns e silos são os principais agentes causadores das filas a beira da estrada. De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), a capacidade de armazenagem do Brasil é de 121 milhões de toneladas – considerando apenas os espaços destinados a granéis, os mais comuns para estocar soja, milho e trigo. Considerando a supersafra de 185 milhões de toneladas (16 tipos de grãos), o país possui defasagem de 64 milhões de toneladas, pouco mais de um terço da produção. “Eu diria que o campo está 30 anos à frente da infraestrutura do nosso país”, avalia.
Paranaguá
2,7 milhões de toneladas de soja e 330 mil toneladas de milho são esperados pelos navios que cercam o porto paranaense.
Santos
2,3 milhões de toneladas da oleaginosa e 255 mil toneladas do cereal serão carregados pelas embarcações que chegarem ao porto paulista de Santos.
Fonte:Gazeta do Povo (PR)