Sexta, 29 Março 2024

Relendo uma antiga revista, a Ilustração Brasileira, de novembro de 1936, encontrei um artigo, escrito por um oficial da Marinha, César Feliciano Xavier.

 


Na antiga fotografia de 1906, vemos o cruzador-escola

'Benjamin Constant', o nosso primeiro Cisne Branco,

atracado no porto francês de Bourdeaux.

(Reprodução: Acervo L. J. Giraud)

 

Ao reler o texto, constatei que o verdadeiro Cisne Branco da Marinha do Brasil foi o navio-escola ‘Benjamin Constant’.

Em certo trecho do artigo, o oficial contava que o comandante Xavier comentou que o navio era comandado pelo capitão-de-mar-e-guerra Augusto Heleno Pereira, e que todos da tripulação - oficiais, suboficiais, sargentos, cabos, praças e principalmente os cadetes e guardas-marinha - cantavam a canção cuja letra começa assim:

“Qual Cisne Branco
que em noite de lua
vai deslizando num lago azul”.

Daí constatei que o ‘Benjamin Constant’ foi o navio que deu origem à música Cisne Branco, que é o Hino da Marinha do Brasil.

 

No cartão-postal de 1908, vemos o navio-escola

'Benjamin Constant' fundeado em Ponta Delgada, São

Miguel, Açores, durante uma das viagens de instrução.

(Reprodução: Acervo L.J. Giraud)

 

No texto, o oficial lembrava que o navio-escola ‘Benjamin Constant’ - que tinha cor branca - navegava na maior parte do tempo a ‘todo o pano’, isto é, com as velas içadas, que lhe davam uma superfície vélica de 1.800 metros quadrados, além de também navegar a todo vapor quando necessário.

O cruzador-escola era do tipo galera. Foi construído nos estaleiros da Compagnie de Forges et Chantiers de la Mediterranée, na França. O lançamento ao mar ocorreu em 1893, no porto francês de Seyne. A construção foi acompanhada pelo contra-almirante João Cândido Brasil.

O primeiro comandante do ‘Benjamin Constant’ foi o capitão-de-fragata Henrique Pinheiro Guedes, sucedido pelo capitão-de-mar-e-guerra Antônio Alves Câmara.

 

O 'Benjamin Constant' foi designado para instalar uma

placa de bronze na Ilha de Trindade, marcando o domínio

do Brasil naquela área. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)

 

No Porto de Toulon, da França, recebeu guarnição do primeiro cruzador ‘Almirante Barroso’, que veio a naufragar, mais tarde, no Mar Vermelho.

Em 1897, sob o comando do capitão-de-fragata Joaquim Rodrigues Torres Sobrinho, foi destacado para instalar um marco de bronze na Ilha de Trindade, assinalando o domínio do Brasil sobre a área.

Dispunha de excelente artilharia, com seis canhões Armstrong de 120milímetros(mm), e quatro canhões Hotkiss de 57mm montado no castelo.

 

Fotografia tirada em 1915 no convés do 'Benjamin Constant'.

Um dos presentes é Raul Hermenegildo Fonseca, pai do prático

Gerson da Costa Fonseca. (Reprodução: Acervo Gerson Fonseca)

 

O ‘Benjamin Constant’ era um navio misto, isto é, tanto podia navegar a vela como a propulsão mecânica (a vapor). O mastro grande tinha altura de 51,70 metros.

Segundo a opinião geral, era excelente para a missão de navio-escola, como assinalara a Revista General de Marinha, quando da viagem inaugural.

Coube ao navio-escola ‘Benjamin Constant’ realizar, depois da Proclamação da República, a primeira viagem de uma embarcação da Marinha do Brasil ao redor do Mundo, e que foi a quarta viagem, até aquela época, empreendida pela Esquadra Nacional.

Velejando, o ‘Benjamin Constant’ era mais rápido que o ‘Sarmiento’, da Argentina, como também do que o ‘Baquedano’, do Chile.

 

O ponto de partida no Rio de Janeiro, das viagens de

circunavegação do 'Benjamin Constant' era a Ilha Fiscal,

famosa por ser o local onde foi realizado o último baile da

Monarquia. Cartão-postal de 1906. (Reprodução: Acervo L.J. Giraud)

 

O famoso navio-escola brasileiro navegou por longínquos e perigosos mares, visitando numerosos países do mundo, como Japão, China, Egito, Portugal, Inglaterra, França, Espanha, Uruguai e Argentina.

Passou pelos Arquipélagos do Havaí, onde escalou em Honolulu. Navegou pelo Rio Amazonas e muitas outras localidades.

Nas viagens pelo Planeta, levava em média tripulação de 400 homens que, com exímia competência intelectual e moral, aliada à bravura e energia, representavam o Brasil perante as nações visitadas, onde deixaram excelentes impressões.

 

O 'Benjamin Constant' atracado no

Porto de Toulon, França, após a

reforma de 1910. (Reprodução:

Acervo L. J. Giraud)

 

Em uma das viagens de circunavegação, a de 1908, foi feito o salvamento de 22 marujos japoneses que estavam próximos à Ilha de Wake, ato grandemente apreciado pelo governo japonês.

O capitão-de-fragata Gomes Pereira e os subordinados receberam medalha de ouro do governo daquele país.

Em 1910, foi reformado no estaleiro francês construtor e em seguida realizou mais uma circunavegação. A sua última foi em 1914.

O ‘Benjamin Constant’, durante muitos anos, foi um forte elo da unidade nacional, quando visitava os portos brasileiros de Norte a Sul.

A baixa se deu por meio do Aviso 578, de 22 de janeiro de 1926, deixando, portanto, o serviço ativo.

 

Foto da revista Ilustração Brasileira

de 1936, mostrando o que foi glorioso

'Benjamin Constant', em total estado

de abandono após ter sido descomis-

sionado. Anos depois veio para Santos,

onde foi desmantelado, restando

somente um dos mastros, mastro que

pertence à Praticagem de Santos.

 

Pelo Aviso 643 do mesmo mês, ficou à disposição da Diretoria do Pessoal da Marinha, para servir de sede às escolas auxiliares especialistas de armamento. O último comandante foi o capitão-de-fragata Américo Ferraz e Castro.

Fiz um artigo em parceria com o jornalista Armando Akio, publicado em 21 de abril de 1996 na seção Porto & Mar do jornal A Tribuna de Santos, onde foram mencionados fatos interessantes ocorridos com o verdadeiro Cisne Branco.

O texto lembrava que o comandante Raul Hermenegildo da Fonseca, já falecido, pai do prático aposentado Gerson da Costa Fonseca (este hoje com 86 anos de idade), serviu como marinheiro no ‘Benjamin Constant’.

 

O famoso mastro do 'Benjamin Constant'

que ornamentou a antiga sede da

Praticagem de Santos por quase seis

décadas. (Reprodução: Acervo L. J. Giraud)

 

Gerson lembrava que a seção do mastro que ficara em frente à antiga sede da Praticagem do Porto de Santos – demolida, deu lugar a um novo e moderno prédio da entidade - integrava uma das seções do mastro de ré (último mastro) do famoso navio.

Em 1949, a Praticagem de Santos, por determinação do prático-mor Teóphilo Quirino, comprou - por intermédio do prático Gerson, na época tesoureiro da associação dos práticos - essa seção por Cr$ 100,00 (cem cruzeiros).

O pedaço do mastro foi transferido para o estaleiro da Praticagem na Praia da Pouca Farinha, em Guarujá. Em vista da rica história, é a minha opinião que ainda deveria estar em frente da nova sede, ou na nova Ponte dos Práticos.

Poucos sabem que o ‘Benjamin Constant’ foi desmontado no Porto de Santos em frente à oficina de reparos navais da Capitania dos Portos de São Paulo, que ficava entre o Ferry Boat, na Ponta da Praia, e a bóia da Tijucupava (próximo ao Armazém 39), no canal do acesso ao cais.

 

Benjamin Constant (1837-1891)

foi oficial do Exército brasileiro,

professor de Matemática em

escolas civis e militares, divulga-

dor da filosofia positivista,

organizador do movimento militar

que depôs a Monarquia, membro

do Governo Provisório republicano.

Era segundo vice-presidente e

titular das pastas da Guerra e da

Instrução Pública, Correios e

Telégrafos. Foi entronizado

postumamente como o 'Fundador

da República'. (Reprodução)

 

As principais características do cruzador-escola eram: 74 metros de comprimento, 15,60 de boca (largura), 5,70 de calado (profundidade do casco na água), 2.870 toneladas de deslocamento, máquinas de 2.800 cavalos-vapor, uma hélice, velocidade de 14 nós (26 quilômetros horários).

O ‘Benjamin Constant’ tinha três mastros: traquete, grande e mezena (ou de ré). Este último era considerado o mastro de honra, pois nele era içado o pavilhão ou flâmula que indicava o comando dos oficiais da Marinha de Guerra. A Bandeira Nacional era içada na carangueja deste mastro.

Fica aqui a nossa homenagem ao verdadeiro Cisne Branco da nossa Marinha de todos os tempos, que foi um grande embaixador do Brasil e levava a nossa bandeira pelos sete mares do Planeta.

Há algum tempo mencionei que o navio-escola ‘Almirante Saldanha’ havia sido o navio que inspirou e deu origem à canção Cisne Branco, que é o hino da Marinha do Brasil.

Por equívoco, porém, deixei de mencionar que o navio que deu origem à famosa canção foi o ‘Benjamin Constant’, que era armado em galera. Nele predominava a cor branca, que em navegação, de longe dava a nítida impressão de ser um cisne em um lago.

Na realidade tivemos três Cisnes Brancos na Marinha: o ‘Almirante Saldanha da Gama’, o navio-escola ‘Guanabara’, atual ‘Sagres’, no momento a serviço da Marinha de Portugal, e o ‘Benjamin Constant’.

Bem, temos hoje o quatro navio da Armada a ser não apenas um cisne branco, mas a ostentar o nome no casco: o veleiro-escola ‘Cisne Branco’, incorporado à Esquadra do Brasil em 2000, por ocasião das comemorações do 5.º Centenário do Descobrimento do Brasil e encomendado a estaleiro da Holanda.

Mas isto é assunto para outro artigo. Quem tiver curiosidade em conhecer mais detalhes sobre o atual ‘Cisne Branco’, recomendamos o site: Navios de Guerra Brasileiros.

 

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Bodas de ouro de um casal que coleciona amigos

 

A coluna Recordar do PortoGente parabeniza o casal Luísa e Gabriel Lobo Fialho, pelos 50 anos de vida conjugal, que será no próximo sábado 14 de Janeiro de 2006, onde haverá uma celebração na Igreja de São Martinho, Centro Histórico de Sintra – Portugal.

 

Vale lembrar que o Cte. Gabriel Lobo Fialho é Capitão-de-Mar-e-Guerra da Marinha de Portugal, onde comandou várias embarcações e ocupou vários cargos de destaque em terra, atualmente é diretor da conhecida Revista de Marinha, estabelecida em Lisboa. O casal possui dois filhos e três netos. Estiveram no Brasil em 2001, onde visitaram a nossa Cidade por alguns dias, onde foram recepcionados durante jantar no Rottary Clube Porto, durante a permanência em Santos, o casal conquistou muita simpatia dos que os conheceram.

 

Foto do dia do casamento do casal Luísa e Gabriel

Lobo Fialho. Imagem reproduzida do convite das Bodas de Ouro.

 

Vale lembrar que o Cte. Fialho, é um grande amigo de Santos, e sempre que possível, através da sua revista, divulga as coisas interessantes da Cidade.

 

Fica aqui os nossos desejos de que Deus os abençoe nesse 14 de janeiro, e lhes proporcione muita saúde e alegrias na companhia de seus familiares e amigos.

 


O feliz casal quando da sua visita à Santos
em setembro de 2001. Foto: L. J. Giraud.

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