João Octaviano Neto fala sobre o novo projeto da ponte, apresentado ao governo federal
Depois de esperar quase um ano por uma reunião com o governo federal, a Secretaria de Logística e Transportes de SP apresentou, no último dia 19, o novo projeto da ponte projetado pela Ecovias para ligar as duas margens do Porto de Santos.
A concessionária reposicionou e aumentou a distância entre os pilares, resultando em um vão principal de 750 metros e altura de 85 metros a partir do nível do mar. De estaiada, a ponte passou a ser pênsil, conforme o novo projeto, aumentando o custo de R$ 3 bilhões para R$ 3,9 bilhões.
Segundo o secretário João Octaviano Neto, a terceira mudança realizada no projeto buscou eliminar interferências operacionais no Porto e não prejudicar as ampliações de projetos futuros do Porto. “Seguimos à risca o que foi colocado tanto pela Secretaria Nacional de Portos como a Autoridade Portuária de Santos.”
Não há, no entanto, previsão de aprovação do projeto pelo Ministério da Infraestrutura e nem a possibilidade de se estabelecer um cronograma das obras, enquanto o ministério não der aval ao projeto. O Estado também enfrenta a concorrência do projeto do túnel, defendido pela Autoridade Portuária de Santos, pelo setor portuário e pelo governo federal como a melhor solução para o Porto e para a mobilidade urbana.
O novo projeto
Segundo o secretário, o projeto remodelado da ponte consistiu no rearranjo dos pilares, de forma a não impactar a manobrabilidade dos navios, a não interferir no calado aéreo e na expansão territorial do Porto. Testes realizados anteriormente no laboratório do Simulador do Tanque Numérico de Provas da Escola de Engenharia Naval da USP já haviam garantido isso, com acompanhamento da Praticagem de SP e da Capitania dos Portos, afirmou.
O projeto foi analisado também pelo Serviço Regional de Proteção ao Voo de São Paulo do Departamento de Controle do Espaço Aéreo do Comando da Aeronática. “Agora, com o vão de 750 m, a ponte não atrapalha o acesso às regiões de Santa Rita e Bagres e não atrapalha as melhores práticas do Porto. A ponte é viável e não gera restrição de navegação, nenhuma área de evolução foi afetada para a navegação.”
Quanto à afirmação pela própria Praticagem de que uma ponte obstrui o canal, ele informou: “O Canal do Panamá, principal local de operação de navios no mundo, tem ponte, e ela não gera nenhuma restrição, conforme a Praticagem disse, em documento assinado na simulação, garantindo que o vão não gera obstrução das operações portuárias.”
A ampliação da distância entre os pilares da ponte não limita a navegação na foz do Saboó (margem direita do canal) e no pedral do Barroso (margem esquerda) e não oferece nenhuma restrição à navegação dos navios, reforçou. “Foi feito um simulado de navios de 366 m e 400 m que não circulam ainda, que têm restrição de corrente, atendendo às características do canal do Porto e dos ventos.”
Segundo ele, a ponte é um projeto bastante agressivo, que está pronto para ser colocado em prática. A duração da obra seria de 36 meses, com aditamento do contrato da concessionária Ecovias, favorecendo a ligação entre as margens: “É um projeto tecnicamente sustentável, economicamente viável e sem restrição, conforme testes feitos no melhor laboratório de Engenharia Naval do País, observando os cuidados com o gabarito aéreo e náutico.”
O projeto do túnel
“Não somos contra o túnel, mas ele precisa ficar economicamente de pé. O ministro acha que ele cabe na Parceria Público-Privada do Porto. Tomara que caiba, as duas opções de ligação seca não são inviáveis, não tem disputa. A ponte está pronta para iniciar as obras já, e o túnel precisa ver se viabiliza na concessão. Isso leva tempo, estamos com projeto pronto, com normas técnicas, seguindo o que nos foi solicitado.”
Cronograma da ponte
O secretário não pôde estabelecer um possível cronograma para aprovação e início das obras da ponte. “Aguardamos posicionamento técnico do Ministério da Infraestrutura, para que se possa levar adiante o projeto da ponte. Agora depende do ministério, estávamos há meses esperando essa reunião. Pedimos urgência na avaliação do projeto, mas tudo depende do prazo interno do ministério. Dado o sinal verde, em 3 ou 4 meses se começa a obra.”
O aval do avanço das licenças ambientais também depende do aval da Autoridade Portuária de Santos para que seja concluído licenciamento. “Daí é muito rápido o licenciamento”.
Aumento do valor da obra da ponte em relação ao túnel
“O valor do túnel é curioso – alteraram o projeto original sem consultar o Estado de São Paulo. Ninguém sabe qual é esse projeto, se vai ter ou não caminhão, com que restrição, se vai passar combustível. Precisa ver isso para ver o valor, que vai de R$3 bi a R$ 5 bi. Já a ponte tem R$ 600 milhões para serem empregados no ajuste viário do Porto. O túnel é um bocado experimental, precisa ver isso, a compatibilidade do túnel com o linhão de Santos, isso não se faz no rabisco. Um projeto de Engenharia leva tempo. Espero que consigam boa equação. O projeto é do Estado, mas não tem a menor viabilidade, a menos que seja incluído na privatização.”
Sobre a realização dos dois projetos (ponte e túnel)
“No mundo todo tem estuários com ponte e túnel, em nova York, por exemplo. Não há essa inviabilidade, mas sim, bom senso, e é preciso ter uma avaliação, não há restrição técnica feita à ponte, ela se mantém. Túnel é alternativa, só precisa ser viável. O embate túnel x ponte é uma questão mais passional e emocional.”
O Ministério da Infraestrutura vai avaliar o projeto da ponte. A pasta destacou que dentro dos estudos sobre a desestatização do Porto, iniciados em setembro, será avaliada a solução adequada de ligação seca entre as duas margens do porto sob os aspectos não apenas do desenvolvimento do Porto de Santos, mas também econômicos e sociais.
* Jornalista, fotógrafa, pesquisadora, docente, pós-doutora em Comunicação e Cultura e diretora da Cais das Letras Comunicação. Contato: Este endereço de email está sendo protegido de spambots. Você precisa do JavaScript ativado para vê-lo.
