Quinta, 25 Abril 2024

Os armazéns-gerais, segundo a obra “Caminhos do Mar – Memórias do Comércio da Baixada Santista” (*), surgiram em 1903, pois até essa data os fazendeiros eram obrigados a negociar as safras ainda no pé, pela razão de não existir local nas fazendas para guardar o chamado “ouro verde”, depois de colhido.


Anúncio da época de duas empresas ligadas ao ramo do café,
sendo uma exportadora e outra de armazéns gerais. Acervo do autor.

A única solução era enviar as sacas para Santos, e depositá-las nos armazéns-gerais, mediante pagamentos. Assim os produtores podiam ficar no aguardo de um melhor preço para venderem suas produções. As cotações eram feitas pelo mercado internacional, cujos preços variavam de acordo com a lei da oferta e da procura.

Esses depósitos podiam ser feitos em qualquer cidade, mas foi em Santos que a maioria se instalou devido estarem nas proximidades cais e em condições de pronto embarque.  Eram em vários pontos da Cidade que se instalavam, principalmente no Macuco, Paquetá e proximidades da área portuária. Vale dizer que o local onde hoje fica o Poupatempo, situado na Rua João Pessoa até a Rua Amador Bueno, no Centro, no passado foi um grande armazém de estoque de milhares de sacas de café.


Outro anúncio da Sociedade Commercial 
Exportadora de Café Ltda, importante
exportadora dos anos 30 do século passado.
Reprodução.

No decorrer do tempo, as zonas produtoras passaram a controlar quase que totalmente o comércio do café. Grandes armazéns foram construídos dentro das fazendas e adjacências, enquanto as casas exportadoras de café de Santos mudaram para São Paulo e outras cidades, diminuindo a importância da chamada praça cafeeira de Santos, por extensão causando o fechamento da maioria dos armazéns-gerais. Em algumas dessas áreas deixadas pelos armazéns-gerais foram construídos prédios de apartamentos, ou utilizados como depósitos das grandes redes de eletrodomésticos, ou concessionárias de veículos. Mas ainda existem vários armazéns-gerais, não só aqui como em outras cidades brasileiras.

A partir da década de 1980, Santos passou a ser um terminal portuário, ou seja, o café já vinha negociado e preparado para embarcar em contêineres diretamente nos navios.


Trecho da famosa Rua XV de Novembro,
conhecida como a Wall Street santista,
por ser reduto do café, bancário e de
agências de navegação. Ao fundo a Bolsa
de Café, vendo-se ainda pessoas ligadas a
essas atividades. 1928. Acervo do autor.

Segundo Cícero Bueno Brandão Junior, da Companhia Tamoyo de Armazéns Gerais, existiam grandes empresas, como Araraquarense de Armazéns Gerais; Fidelidade de Armazéns Gerais, que pertencia à empresa Anderson Clayton; Cafeeira de Armazéns Gerais; Aliança de Armazéns Gerais, Companhia Produtores de Armazéns Gerais. Acrescenta ainda que o estoque era tão grande que, às vezes, era preciso alugar armazéns externos da Companhia Docas de Santos para guardar o café.

Esses estabelecimentos além da guarda das sacas tinham um grande aparato para beneficiamento do café, como máquinas apropriadas. Inclusive reensacavam os grãos.


Vista do Porto do Café, com armazéns da Companhia Docas de
Santos e particulares. 1960. Acervo do autor.

Os armazéns gerais, não funcionavam apenas em Santos, havia em outras cidades como Paranaguá, Vitória, Rio de Janeiro, ou seja, por onde embarcasse café.

O meu avô paterno, José Giraud Filho, foi fiel de armazém (chefe de armazém), da empresa Assumpção Netto & Cia., cuja admissão foi em 27/12/1907. Lá ficou por muitos anos até a chegada da sua aposentadoria, no início da década de 1940.


O "Estrid Torm", da Torm Line, foi um cargueiro atuante no
transporte das sacas do ouro verde na década de 1950. O frete
marítimo cobrado para sacas de café era um dos mais rentáveis
para os armadores. Acervo do autor.

O armazém da Assumpção Netto ficava na Av. Eduardo Guinle, num dos armazéns externos da Cia. Docas.

O campo de trabalho era imenso, Só o Sindicato dos Ensacadores tinha mais de três mil associados, isso sem contar os funcionários das transportadoras locais que efetuavam os embarques, das casas exportadoras de café, que será objeto de uma outra matéria. Isso trouxe inúmeros bancos nacionais e internacionais para Santos. Dentre os internacionais havia o The Firts National City Bank-New York, Bank of London, Banco Real do Canadá, Bank of Boston, Banco Ítalo-Belga, Banco Francês e Italiano, dentre outros.


A fotografia mostra o embarque de café nos anos 1950 no Porto de Paranaguá, um grande concorrente do cais santista nas exportações
do café em grão. Acervo do autor.

Tudo isso sem deixar de citar às inúmeras armadoras que vinham em busca dos rendosos fretes proporcionado pelas sacas de café, dando assim origem a várias agências de navegação (leia), que eram  superiores ao número das atuais,  que consequentemente originavam maior número de  empregos.

Não custa lembrar que graças ao café os paulistas criaram uma obra fantástica. Sem nenhuma ajuda financeira do governo, surgiram as estradas de Ferro Paulista, Sorocabana, Mogiana e Ituana. Já a que trazia as safras de café para o Porto de Santos era a britânica São Paulo Railway (S.P.R.), mais tarde Estrada de Ferro Santos-Jundiaí. A S.P.R. tinha grandes armazéns, que eram vistos da Av. Martins Fontes, onde podiam ser armazenados vários tipos de mercadorias, inclusive espaço para o café, que ficava separado para não adquirir cor e sabor de outros produtos.


As fazendas de café não possuiam espaços fechados para
armazenamento das safras, por isso as sacas eram encaminhadas
para os armazéns-gerais do porto - anos 1920. Acervo do autor.

Com as grandes mudanças ocorridas, com o passar do tempo, uma peça de grande importância no comércio cafeeiro foi diminuindo - o corretor de café, que fazia as vezes do fazendeiro na venda do café junto às incontáveis casas exportadoras.

Quem chegou a ver o reduto do café, do qual faziam parte as ruas XV de Novembro, do Comércio, Frei Gaspar e adjacências até os anos 1960, pode dizer o que foi o tempo do café. A Cidade era um verdadeiro Eldorado em todos os sentidos. Hoje a Cidade continua rica devido à diversidade de atividades, mas o Porto continua sendo o astro-rei.


No cartão-postal são vistas sacas de café devidamente estivadas
no porão de um cargueiro da época. 1928. Acervo do autor.

Fiz parte do “Reduto do Café” entre 1960 e 1962, quando trabalhei na firma suíça Volkart Irmãos Ltda (Volcafé) levado pelo amigo Ronaldo Guedes Figueiras, que era sobrinho do chefe de escritório Nelson Alves Figueiras. O gerente era o suíço Bruno Egon Angst, que, diga-se de passagem, amava a Cidade, e o responsável pelas vendas era John Charles Lockley.

Através desse emprego conheci muitas coisas interessantes como vários armazéns gerais, funcionamento bancário (câmbio), agências marítimas, Instituto Brasileiro do Café, repartições fiscais, corretores de café, despachantes, e até o Café Paulista, cujo primeiro almoço foi pago pela Volkart. Era no tempo que ainda não existia o sistema de malotes, e as encomendas iam e vinham de São Paulo pelo Expresso Luxo.


No imóvel que atualmente abriga a unidade de Santos do Poupatempo,
no Centro, funcionou durante vários anos um grande armazém de café.
Foto do autor.

São tantas as lembranças que acho melhor ir parando por aqui se não vou contar que a primeira barba e unha que fiz numa barbearia foi no Salão Crystal, na Rua do Comércio, muito freqüentado pelos comissários e corretores de café. O pessoal do ramo dava generosas gorjetas aos barbeiros e manicuras. Viram como o café puxava e ainda continua puxando muitas riquezas para Santos?

Imagem da semana


Fotografia tirada em 1927, no local conhecido como "Quatro Cantos", formado pelas ruas XV de Novembro e Frei Gaspar. A imagem
mostra que o comércio exterior do café deixava o local muito
movimentado. O homem que aparece no centro da foto de paletó
escuro, era Heraldo Peixoto Duarte, chefe do Departamento Pessoal
do Departamento Nacional do Café, que mais tarde passou a ser o
Instituto Brasileiro do Café, o IBC. Ao fundo a Bolsa do Café. O carimbo
em vermelho sobre a foto é da época. Acervo do autor.

(*) Obra desenvolvida pelo Museu da Pessoa - 2002

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