Quinta, 31 Outubro 2024

Sempre fui contra a média. Na coisa comum, popular, é usual alguém falar: “na média a coisa está bem ou está mal”. Mas também em assuntos tratados com rigor científico, a média aparece amiúde.

No caso do PIB per capita o que se tem é um valor médio, mais precisamente a média aritmética, onde se junta todo o dinheiro elaborado no País e se divide pelo total de pessoas.

Resumindo, se fossem apenas duas pessoas e uma produz R$ 1milhão por ano e outra R$ 2,00 apenas, na média a produção per capita é R$ 500.001,00. Esse é um resultado normal no nosso País, onde se encontram as lojas mais caras do mundo, vendendo, às vezes, mais que a matriz, enquanto ao seu lado cresce o número de favelados.

Nos idos tempos de mercado fechado, antes de Collor, tínhamos alguns exemplos de como empresas ganhavam muito dinheiro: se o custo de produção subisse, o departamento financeiro recalculava os preços dos produtos ou serviços finais, a fim de garantir a mesma rentabilidade. Caso a demanda caísse, em função de maior preço, não importava, pois nova elevação de preços garantia a estabilidade de faturamento. Como resultado, o que se tinha era inflação, perda de capacidade de compra do assalariado e menor número de postos de trabalho.

Felizmente, o ex-presidente Collor abriu, como Dom João, os portos do Brasil para mercadoria estrangeiras, via um programa ousado de redução de tarifas de importação.

As empresas aqui localizadas, quer nacionais ou internacionais, tiveram de repensar suas estratégias.

Melhorou-se a produtividade. Reduziu-se o desperdício. Modernizou-se a produção.

O País começou a exportar cada vez mais, o câmbio facilitava ainda mais esse processo.

Mas aí apareceu a China com seus preços ridículos, subfaturados ou não, fazendo dumping ou não, mas tirando nossa competitividade no mundo, assim como a de outros players internacionais.

Nossa pauta de exportação aumentou do lado das commodities, o que compensou fortemente nossa balança.

Na média, a gente exportava mais. Só que subia o lado das commodities e caía o de produtos mais elaborados.

Nas empresas, especialmente as multinacionais, as margens continuavam a ser generosas, se comparadas com as das matrizes. O faturamento, entretanto, não era lá essas coisas.

Não havia um plano de governo de incentivo à demanda interna e consequente crescimento do PIB por geração e consumo local, dignos de um grande país. A crise internacional parece que está dando um jeito nisso. O brasileiro está consumindo mais e gerando faturamento local para as grandes empresas. O dólar forte atrapalhando a exportação, concomitantemente às taxas negativas de crescimento dos países compradores, forçou essa reviravolta.

O consumo do brasileiro, na média, está mais atrelado ao financiamento de longos prazos. Famílias estão endividadas com vários carnes simultâneos. Mas na média não parece tão ruim. O rico não precisa financiar a compra de um liquidificador ou mesmo de um automóvel.

A queda dos juros, mesmo que não expressiva, induz a mais compras. Está acontecendo um fenômeno interessante, que nada teria de espantoso se fosse uma coisa evolutiva, mas que devido a sua velocidade pode ser preocupante: várias empresas já têm o mercado brasileiro como seu principal mercado, ganhando da matriz e também do mercado chinês.

O que se pode vislumbrar, em curto prazo, é que a inflação poderá voltar já que a maioria das empresas não está preparada para forte crescimento de produção rapidamente.

A infraestrutura logística não está preparada para suportar mais demanda em todos os seus campos: energia, estradas, armazenamento, portos, etc. 

Como nunca houve uma política deliberada de incentivo ao mercado interno, em paralelo a maior penetração nos mercados internacionais, o jeito agora é correr atrás, como sempre, sem planejamento.

Quando o presidente Lula veio a público e pediu para os brasileiros não pararem de consumir, incentivou  essa nova onda. Foi entendível a vontade do presidente e até certo ponto positiva.

Entretanto, como dizia o pitagórico Filolau de Crotona, a definição de harmonia nasce dos contrários.

Logo, o mais correto seria que ao consumo se contrapusesse a poupança.

Na média, o povo ainda tem capacidade de endividamento. Mas novamente o conceito de média nos atrapalha – alguns estão muito endividados- e outros não têm dívida.

Preferiria usar o termo analogia no lugar da média, pois fica mais fácil do que usar média e seus desvios estatísticos.

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