Com o título “São Paulo será 6ª cidade mais rica do mundo”, o jornal O Estado de S. Paulo apresentou um estudo da Pricewaterhouse Coopers, baseado no crescimento anual previsto de 4,2%.
Outras sete cidades brasileiras (Brasília, Porto Alegre, Belo Horizonte, Curitiba, Recife, Fortaleza e Salvador) devem figurar no ranking das 150 cidades com maior PIB no mundo em 2025, segundo o levantamento.
Isso seria, a princípio, bastante auspicioso. Porém, não me iludo mais. Em primeiro lugar, valor total de PIB não significa muito. Tanto é, que a medição de desenvolvimento é feita pelo IDH, que mede riqueza, educação e expectativa de vida.
Porém, mesmo com esses três indicadores reunidos, ainda é fraca a avaliação de desenvolvimento humano de um país. Explico porque. Na semana passada estive na cidade de Houston, no Texas, a quarta maior cidade americana, aproximadamente 4 milhões de habitantes. Fiquei procurando onde estavam eles, pois, ao contrário das nossas cidades, até de menor porte, não havia aquela infinidade de prédios uns em cima dos outros. Bem oposto, a maioria mora em casas grandes com belos jardins e sem muros. Claro que há ladrões também lá. Mas a cidade prefere investir no aparelhamento da polícia, do que ficar se trancando atrás de enormes grades.
Nas ruas, apesar do enorme número de automóveis, em geral de grande porte, não havia congestionamentos. Também pudera, não havia nenhum carro estacionado ao lado das calçadas, pois isso é proibido. Mas essa proibição pode ser colocada, pois há inúmeros edifícios garagem.
Por falar em calçadas, tive a impressão que todas elas tinham sido concretadas na noite anterior. Limpíssimas, sem buracos, sem cocô de cachorro. E as vias asfaltadas (na maioria concretadas), sem calombos, ou crateras.
Não vou sequer entrar nos detalhes dos inúmeros hospitais, pois esta cidade é reconhecida como centro mundial de excelência em saúde. Vou me ater às escolas particulares de lá. Nas universidades, campos de futebol, beisebol, tênis, piscinas semiolímpicas e outras coisas mais, impecáveis. As escolas primárias não eram casas antigas reaproveitadas, mas sim prédios construídos para esse fim, com segurança, limpas, com espaço e professores bem pagos para ensinar as crianças.
Aí vem um brasileiro e diz “mas isso é porque os gringos têm muito dinheiro”. Me ative a esta questão. Puxa, como pode o governo deles ter tanto dinheiro se o imposto sobre bens gira ao redor de 8%? O nosso é 18% só de ICMS, fora PIS, Cofins, IPI, sem falar dos impostos sobre serviços.
De onde eles tiram tanto dinheiro para construir estradas? Afinal, não há pedágio nessa área.
Fui então passear no meu parque. Meu porque homenageia um chará. Parque público. Sem grades e sem pedintes, sem lixo no chão e sem ambulantes. Em compensação com campo de golfe aberto a todos e grama cortada todos os dias, como manda o figurino.
Fui assistir a um jogo de basquete. Casa cheia. Só me desloquei para lá perto do horário de início. Afinal havia comprado ingresso pela internet. Todos os lugares são numerados e todos se sentam apenas nos seus lugares reservados, sem invasões; mas também o local no estacionamento foi comprado pela internet e também com lugar reservado.
E o brasileiro repete: “mas também os gringos têm muito dinheiro”. Se for verdade, os produtos devem custar bem caro para que haja muito lucro, sobrando dinheiro para pagar bem a todos os funcionários e que haja cobrança sobre a renda de cada um.
Que surpresa! Os produtos custam muito mais barato do que aqui, mesmo eliminando-se os impostos. Foi aí que deu curto circuito na minha cabeça.
Pagam menos impostos do que nós. Vendem produtos mais baratos. Os hotéis de mesmo nível que os nossos são mais baratos.
Pensei: agora que o Obama está querendo aumentar a participação do governo na proteção de saúde dos mais pobres, provavelmente o que é caro é o plano de saúde.
Aí, pirei de vez, pois pago quase o dobro do que eles lá. E a ainda tenho de pedir autorização para fazer exames. Não conseguia achar a resposta e fui dormir.
No dia seguinte fui convidado para assistir a um concerto de música clássica durante o happy hour.
Quase caí de costas. O espetáculo estava sendo no sagão de um hospital e os integrantes da orquestra eram os médicos, ainda com seus estetoscópios pendurados no pescoso, enfermeiras uniformizadas, ou gente da administração.
Eles fazem tudo com dedicação e buscam a perfeição, inclusive no lazer.
Enquanto escutava as músicas fiquei meditando sobre desenvolvimento, e cheguei à conclusão que é preciso se avaliar a cultura e a mentalidade de cada povo, para se determinar melhor o nível de desenvolvimento. Antes é necessário definir desenvolvimento.
Eu acredito que seja viver bem financeiramente, ser feliz com sua família, sem stress, ser capaz de contribuir com valores positivos para a sociedade e ter liberdade, podendo ter tempo para si.
Não acredito que seja fazer tudo meia boca, para os outros e para si mesmo, ou ainda avacalhar sempre que possível, ou não se importar com o próximo. É, de fato, questão cultural e de mentalidade.
E isso não se muda em uma década. Talvez em uma geração.