Quinta, 31 Outubro 2024

O pesquisador italiano Pareto desenvolveu o seu famoso gráfico indicativo dos problemas dentro de uma empresa. Assim conseguiu mostrar que 80% dos problemas são devidos a apenas 20% de coisas diferentes.

 

 

Essa interessante regra é aplicável em todos os tipos de empresas, assim como nas suas relações com clientes e com fornecedores e, curiosamente, em todos os casos, os índices se mantêm bem próximos da relação 80-20.

 

Com isso, as empresas conseguem identificar e classificar os problemas e passam a se preocupar em resolver os 20% mais importantes ou mais impactantes, permitindo que, mesmo com recursos limitados, se busque o melhor resultado. Periodicamente se faz uma revisão para novo ordenamento dos problemas.

 

No caso de nosso comércio exterior essa mesma regra pode e deve ser aplicada. Os problemas maiores quando do reinício da nossa vida democrática, isto é, a partir de Sarney, estavam ligados a um isolamento comercial do País.

 

Necessitávamos reativar nossas relações comerciais com outros países, não só para poder exportar e assim ganhar divisas, como para importar e atualizar tecnologias e melhorar a produtividade.

 

Com certeza essas atividades estavam dentro dos 20% de maiores dificuldades a serem resolvidas naquele momento.

 

Gradativamente, porém consistentemente, foram reduzidas as alíquotas dos impostos de importação. Aliás, comparativamente a alguns países desenvolvidos podemos afirmar que estamos com índices de bom tamanho e com processos universalmente utilizados.

 

Logo, a seguir, porém por vezes correndo em paralelo, formamos novas parcerias internacionais, novos mercados foram abertos cujos resultados estamos colhendo há pouco tempo. Nos negócios internacionais se pode esperar sempre um longo tempo de maturação das relações para que o business se fortaleça, e durante esse período ambas as partes estreitam seus conhecimentos um do outro.

 

Não se pode cometer erros no comércio exterior. O custo da sua recuperação é muito alto. Portanto, na medida em que os negócios aumentam tanto de exportação como de importação é preciso cuidar cada vez melhor de tudo que a eles se refere.

 

Quais seriam então os novos 20% de problemas maiores? omeçaram a surgir as denuncias sobre as coisas do agronegócio:

 

- falta de vigilância sanitária em empresas produtoras

- gado com febre aftosa, etc.

- falta de investimento em sistemas de controle de doenças, entre outros

 

Por falta de transparência não sabemos exatamente se os problemas foram resolvidos de forma definitiva, ou apenas pontualmente trabalhados e, portanto continuam no quadro dos mais críticos.

 

Esperando que as soluções tenham sido completas vamos ao novo quadro de problemas.

 

Estão dentro das prioridades (80-20) atuais três questões: o custo da produção, a valorização do Real frente a outras moedas  e o custo da logística.

 

O custo da produção tem duas linhas de análise:

 

a) a capacidade produtiva da empresa e

b) a influência do processo de cálculo e cobrança de impostos (ver artigo Drawback verde-amarelo).

 

No item “a” estima-se que o empresário tenha feito tudo quanto possível para atingir o maior grau de competitividade.

 

No item “b” temos dificuldades e  há pouca esperança de que  será modificado, a não ser pontualmente ou setorialmente, pois interesses particulares se sobrepõem aos coletivos em matéria de tributação.

 

A valorização do Real frente a outras moedas é conseqüência de uma série de políticas e de medidas macroeconômicas que está mais para uma reação às variantes liberais globais.

 

Finalmente o problema logístico. O incremento de comércio exterior impõe uma série de investimentos na logística brasileira. Portos e aeroportos não estão preparados adequadamente para maiores aumentos. Agora o governo fala em privatizar dois aeroportos.

 

Os meios de transporte de mercadorias de suas origens aos portos e aeroportos também continuam fortemente atrelados ao meio rodoviário, para o qual apenas recentemente o governo liberou a possibilidade de privatização. Os custos desses deslocamentos internos são, por vezes, tão grandes que inviabilizam a briga por novos mercados ou reduzem as margens de lucro de quem produz.

 

Se, após 2008, o mundo retornar a patamares de crescimento do início desse século, o que é bem provável com a continuidade de crescimento chinês, do crescimento da Índia e da América do Sul, será inevitável o aumento do nosso comércio exterior, especialmente em commodities.

 

Nas empresas, particularmente nas bem organizadas, o ataque aos problemas se dá, como disse, após uma classificação dos problemas, porém sempre se procura, através de um planejamento estratégico, antever os possíveis maiores problemas e programar as ações para evitá-los mais para a frente.

 

A pergunta é: qual o plano estratégico dos governos locais, estaduais e federal, com relação ao esperado problema de logística no futuro breve e no mais distante? Será que novamente vamos esperar que as dificuldades batam à nossa porta para só então iniciarmos ações corretivas, as quais, como de costume serão pontuais e não estruturais?

 

Como estão: o aprofundamento do canal de Santos para suportar navios de maiores calados? Onde estão os projetos de novas estradas de ferro que conjuntamente proporcionariam o crescimento da indústria de vagões e locomotivas? Como estão as duplicações e modernização das principais rodovias? E a fiscalização nas rodovias atuais para evitar roubos e conseqüentemente maiores custos de seguro? Como estão os programas de aumento e melhoramento dos aeroportos? Olhando-se as obras do setor de cargas, é incrível como o pessoal do aeroporto de Guarulhos consegue dar conta dos processos de importação, especialmente, com a infra-estrutura disponível.

 

Se a questão da falta de investimento é a falta de recursos dos governos, então que se privatize rapidamente.

 

Não há mais capacidade ociosa nos sistemas logísticos nacionais. Portanto crescimento para o comércio exterior, ou mesmo para o comércio interno só será possível sem causar muitos transtornos e aumentos de custos com investimentos.

 

Basta compararmos o quanto nossos diretos competidores no mercado internacional, a China e a Índia, estão disponibilizando em novos investimentos de infra-estrutura, com o total do PAC, que inclui elevador em favela e outros quitais. Dá vontade de chorar.

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