Quinta, 31 Outubro 2024

Várias realidades físicas ou econômicas podem ser representadas por equações matemáticas. Essas se tornam mais precisas na medida em que se consegue uma tradução mais fina, que indique claramente os movimentos reais em forma algébrica e numérica.

 

Não é um exercício simples. Requer muito cuidado para que não se trabalhe com representações deformadas. Supondo que se tenha criado uma equação perfeitamente representativa, tem-se a possibilidade de pesquisar a importância de cada elemento da equação isoladamente, a fim de verificar como, variando-se os seus valores particulares, ele influencia o resultado da equação como um todo.

 

Para cada variável há o chamado fator de ponderação, isto é, há um fator que multiplica o valor da variável implicando em maior ou menor importância relativa.

 

Principalmente nas equações econômicas o fator de ponderação pode mudar com o tempo. Um exemplo de uma equação que freqüentemente sofre alterações é a que mede o índice de inflação.

 

A variação do preço de um automóvel não tinha qualquer importância no cálculo do índice de inflação há 30 anos, quando pequena parcela da população tinha carro. Hoje, em São Paulo, existe um carro para cada dois habitantes. Portanto, o fator de ponderação do carro, na equação, precisa ser elevado em detrimento do fator de algumas outras variáveis que perderam representatividade.

 

Quanto mais se trata de um ambiente físico, mais simples de se obter uma razoável relação. Quanto mais distante do físico, mais complexa fica esta tarefa.

 

No âmbito político, a dificuldade é extrema e muitas vezes só se consegue obter a correta relação quando se faz a sua contabilidade, isto é, somente depois de passados os eventos é que se ajustam os dados. Logo, fazer ações políticas é sempre um bom exercício de quebra-cabeça.

 

O que pesa mais: um bom resultado econômico atual ou processo educacional que crie base sólida para um desenvolvimento futuro?

 

O que pesa mais: um bolsa família distribuída a poucos, com dinheiro de todos, ou um investimento marcante em infra-estrutura?

 

O que pesa mais: um processo de cooptação de mensaleiros ou uma governança ética?

 

Se formos olhar o Príncipe, de Maquiavel, um dos primeiros, senão o primeiro livro sofre filosofia política, veremos que a sua colocação “os fins justificam os meios” continua absolutamente atual senão mesmo reforçada.

 

O fim, a que sempre se refere esse autor, é a própria manutenção do poder.

 

O poder tem o poder de enfeitiçar. O poder é como um ópio. Mais que isso o poder iguala todos. Todos o amam. Quer de direita, quer de esquerda, quer nem de um lado nem de outro. Claro que a esquerda é sempre mais radical.

 

Na Rússia, o senhor Putin se manteve indiretamente como chefe ao eleger seu pupilo e subordinado como presidente, e garantir sua presença no cargo de primeiro ministro. Na China, todos parecem estar contentes com a continuidade do grupo comandante do partido (aliás, até hoje eu não entendo porque o chamam de partido sendo único) comunista.

 

Na Venezuela, o presidente (ou melhor, o ditador) Chávez muda as leis, muda a Constituição para se manter ad eternum no poder.

 

Na vizinha Argentina, só trocaram apenas duas cadeiras de lugar, criando-se o cargo, nada comum até pouco, de primeiro senhor (ou seria damo?).

 

Nos Estados Unidos, o partido democrata pode repetir esse fato argentino. Grande parte dos grandes países da Europa é reinado, como Inglaterra, Espanha, Dinamarca, Holanda, Suécia, etc.

 

Viva o poder! Logo, mantê-lo is the must, é o máximo.

 

Diferentemente do poder da realeza, o poder numa democracia republicana deve buscar o resultado da equação que indica a satisfação do eleitor no mais alto índice. Destarte o que mais pesa, dentro da equação política, é aquela variável que, do ponto de vista de satisfação do eleitor, permite a manutenção do poder. Assim mesmo que nada seja feito para melhorar os valores da outras variáveis, uma única com grande peso carrega todo o resultado final nas costas.

 

Também na área política, as importâncias relativas das diversas variáveis sofrem variações ao longo do tempo.

 

Atualmente, no nosso País, parece que a variável mais importante é a da representação econômica. Não importam a ética, a justiça, a melhoria social concreta, a educação, a infra-estrutura.

 

Também importam muito as obras visuais (não me enganei, não estou falando das obras sociais), como o bondinho pendurado para transporte na favela do Rio, emoldurado por obra de Niemeyer.

 

O que tem garantido o poder, com os índices de satisfação do eleitor em alta, é o resultado econômico atual.

 

Não tem adiantado nada afirmar que qualquer que fosse o governo, desde que não criasse grandes perturbações, teria sucesso semelhante, pois o mundo tem crescido a taxas altíssimas nos últimos anos, garantindo demanda suficiente para o crescimento de nossas vendas ao exterior.

 

O que preocupa são as mais recentes informações sobre os motores propulsores da economia mundial recente: Os Estados Unidos e a China.

 

De um lado os americanos, segundo último levantamento começa a dar sinais visíveis de desaceleração econômica, e a China estuda como segurar a montanha de dinheiro disponível, com o intuito de reduzir um pouco seu crescimento. Se esses dois travarem, o mundo trava em conseqüência.

 

Já hoje, o superávit primário entra em uma curva descendente, portanto é, no mínimo, preocupante a redução de demanda desses dois países, posto que podem afetar significativamente nossas exportações.

 

Creio que estamos entrando em um novo período para ações políticas. Creio que o peso maior está sendo guinado para outras variáveis, como crescimento interno sustentado, responsabilidade social e educação correta.

 

Se esse governo não se der conta disso correrá o risco de perder o poder. Viva o poder.

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