Quinta, 31 Outubro 2024

Era uma manhã de primavera. O sol já estava firme no céu, sem nuvens.

 

O parque estava repleto de gente descontraída que queria escutar a orquestra sinfônica tocar Beethoven, talvez fosse a nona sinfonia. Uma senhora vestindo um novo conjunto de ginástica de marca busca uma folha de seu jornal, e senta-se a meu lado, colocando o jornal no chão de grama para não sujar seus fundilhos. Justo, afinal a roupa estava limpa e era nova.

 

Ao término de mais de uma hora de música, em que as almas e os corações flutuaram nos acordes da romântica melodia, a senhora se levanta... e deixa o jornal no chão.

 

Provocativamente eu corro na direção dela, com aquela folha de jornal na mão e digo: “a senhora por acaso não esqueceu este pedaço do jornal?”. Ela se vira e reclamando pega–a de volta.

 

Pensei: por que as pessoas deixam o lixo no chão? Por que as pessoas jogam lixo na rua? Por que as pessoas pensam que o lixo é para os outros cuidarem? É comum ver as pessoas varrendo suas calçadas e literalmente empurrando o lixo para seu vizinho. Aquilo me irritava e eu pensava: isso é coisa de subdesenvolvido!

 

Um dia, há alguns anos, estava num hotel do Rio de Janeiro, frente ao mar, que possuía uma grande e bem montada estrutura de treinamento de futebol e por isso recebia, como hóspedes, alguns times estrangeiros para treinar e aprender com nossos times.

 

O primeiro grupo que encontrei era de jovens da África, de Camarões. Muito educados e atenciosos, cuidavam para não fazer nada errado, pois sabiam estar sendo observados por todos. Nem sequer falavam alto.

 

Outro time que me impressionou foi de jovens da Suíça. Durante o café da manhã eles falavam alto, chegavam em momentos diversos e, após terminarem o petit dejeneur, não só a mesa era um mar de pratos com muita comida, semi comida, como o chão ao redor um verdadeiro lixão.

 

Por que eles, seres desenvolvidos, faziam isso? Por que aqui, e não na Suíça, país onde não se vê nem bituca de cigarro na rua?

 

A resposta ficou clara. Falta punição.

 

No Brasil temos leis suficientes para punir quem joga lixo nas ruas. Mas quem vai punir as pessoas que o fazem?

 

Nossas praias, especialmente aquelas dos moradores de São Paulo, ficam repletas de sacos, copos, latas, cigarros, bananas, milho, para o outro cuidar.

 

Falta punição.

 

Não seria para o mal, seria para o bem da própria sociedade, que parece não se dar conta do problema.

 

Fala-se muito em poluição do ar, poluição da água.

 

O lixo diário de cada um é uma grande fonte de poluição. Parte, talvez, se deva à nossa história e à nossa própria sorte da terra da abundância. Aqui se põe muito na mesa e se joga muito fora, seja rico, seja pobre. Parece que a fartura é sinal de prosperidade ou de bem receber os amigos e familiares.

 

Uma vez fui convidado para um jantar na casa de uma senhora na Alemanha. Ao chegar ela pediu que eu fosse comprar maionese, pois queria fazer uma salada. De batatas. Fui ao mercado mais próximo e comprei um grande pote, pensando que o que sobrasse poderia ser guardado na geladeira.

 

Cheguei esperando um muito obrigado, ou dankeshoen, mas não. Levei uma bronca de mãe para filho. Ela disse que era um absurdo eu ter comprado tudo aquilo de maionese, pois a salada seria somente para quatro pessoas.

 

Aprendi que para ter muito e sempre é preciso gastar apenas o necessário. Creio que somente alguém que tenha passado pelas dificuldades da guerra possa dar valor exato às coisas materiais, na medida certa.

 

Como estamos em período de festas fica aqui minha sugestão para que não se gaste mais do que o necessário, não se beba mais do que preciso, não se desperdice e não se crie mais lixo.

 

Afinal, sujeira dá coceira, cheiro ruim e muito chulé.
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