O homem sempre temeu a natureza. Na antiguidade, vendo ciclos e forças naturais, sem entender seus mecanismos, socorreu-se na mitologia, com deuses e afins. Inúmeras entidades representam raios e trovões nas diversas crenças, seja o Zeus grego, Xangô no panteão africano, até o nosso Tupã, referência tupi guarani.
Na mitologia nórdica, Thor, filho de Odin, desferia relâmpagos com golpes de seu martelo. Assim, o homem podia culpar os deuses pelas incertezas do clima, das marés, dos terremotos, vulcões e outros infortúnios, até pela morte.
Já o ciclista Wanderson Pereira dos Santos talvez nunca tenha ouvido falar de Thor, o nórdico, mas provou de seu martelo, transposto na forma de um bólido da moderna tecnologia, máquina de conforto e prazer totalmente diferente da “magrela” que ele, segundo o relato, conduzia à noite na rodovia Washington Luiz. Vidas bem distintas, 30 anos do ex-ciclista, vinte do cinesíforo. Esta palavra antiga, que designa o motorista, junta o grego cine de kinea, movimento com o verbo latino fere, levar, trazer, carregar, ou seja, o que conduz o movimento.
Thor, o real, conduzia o movimento e a energia cinética estava com ele. Com o impacto, cada molécula do corpo destroçado de Wanderson apreendeu o sentido físico de que dois corpos não podem ocupar o mesmo espaço ao mesmo tempo e que a cada ação corresponde uma reação que pode ter terríveis efeitos.
Enfim, outra tragédia brasileira, morte severina, morte matada, dor e perda que choca e constrange pela primariedade e recorrência. O ocorrido vai sendo apurado pelos técnicos e receber o julgamento dos homens. Perdeu a Humanidade. Resta-nos lamentar, respeitar as leis de trânsito e, entre tempestades, raios e trovões, valha-nos Santa Bárbara.
Saudações seguras.