ARM Logística: 13 anos de soluções!

Hoje, comemoramos com alegria e orgulho os 13 anos de conquistas e superações que moldaram a his...

Leia mais

Cargill abre 253 vagas de estágio em vários estados

Oportunidades estão disponíveis em 13 estados para estudantes das áreas de ciências humanas, e...

Leia mais

A idéia deste artigo surgiu quando recebi do advogado Carlos Maia e de sua esposa Maria Helena um envelope contendo fotografias inéditas tiradas por João Gabriel Sanches Camacho, grande fotógrafo amador, sogro e pai destes queridos amigos. As fotos eram dos anos 20 e 50. Algumas já foram usadas em outros artigos, como o do transatlântico italiano Conte Verde.

 

Fotografia artística do Seabee, decolando da Ponta da

Praia por volta de 1957. Imagem clicada por João Gabriel

Sanches Camacho. Acervo: L. J. Giraud

 

Entre essas fotos, duas eram de um hidroavião que fazia vôos panorâmicos pela Cidade na segunda metade da década de 1950. Ao vê-las, fiquei extasiado e a lembrança me levou para aquele passado repleto de grandes acontecimentos.

 

Como admirador dos navios não custa dizer que também aprecio aviões. Porque quem gosta de navios geralmente aprecia aeronaves. Permitam-me uma rápida recordação: quando menino, e ia ao Centro Histórico de Santos na companhia de meus pais, sempre pedia para que me levassem nas Lojas Americanas, ou na Casa Lido, com a intenção de que comprassem aviões de brinquedo, como do tipo DC-3 e caças típicos da Segunda Guerra Mundial. Algumas vezes era atendido; outras, não.

 

Vale dizer que eu adaptava barquinhos sob as asas de alguns desses aviões de plástico. Eu os amarrrava com barbante, fazendo com que parecessem hidroaviões. Pousavam sempre na banheira de casa. Num certo domingo, fui à praia acompanhado por minha mãe e levei um deles para brincar de piloto. Minha imaginação era fértil. Confesso que me diverti a valer, além de ter atraído outras crianças nas peripécias aéreas.

 

Raríssima imagem do hidroavião na Ponta da Praia,

fundeado em frente ao Aquário Municipal. É possível notar

a tranqüilidade das águas, um verdadeiro Mar de Almirante.

Foto: João Gabriel Sanches Camacho. Acervo: L. J. Giraud

 

Voltando às fotos artísticas clicadas pelo sr. Camacho, enviei por e-mail uma do aviãozinho da Ponta da Praia, para amigos que apreciam o tema aviões, entre eles, o comandante Carlos Eugenio Dufriche, Wanderley Duck e o prático Fábio Melo Fontes. Prontamente, eles responderam com várias informações, as quais se juntaram às minhas recordações e deram grande brilho no presente artigo.

 

Os santistas mais vividos, com certeza recordam do simpático hidroavião Republic RC-3 Seabee, que amerissava e decolava na praia em frente ao Aquário Municipal de Santos, entre 1956 e 1958. Não recordo exatamente de tudo, mas lembro muito bem da primeira vez que vi o inesquecível Seabee. Foi de dentro do bonde 42, na altura do Canal 5, quando na companhia do amigo de longa data, Gastão Lelis Leite Jr., me dirigia para o Clube Internacional de Regatas, onde aos domingos passava filmes no ginásio de esportes. Já tínhamos assistido no Cine Iporanga, hoje demolido, uma fita da dupla Jerry Lewis e Dean Martin. Mas esse não foi o nosso recorde, que foi o de irmos a três cinemas no mesmo dia, cuja história fica para uma próxima vez.

 

Voltando ao bonde 42 (um dos bondes que passava pelos cinemas do Gonzaga), ao olharmos para a Baía de Santos, vimos um hidroavião pousando na água. Ao chegarmos no Aquário, descemos do coletivo e rumamos imediatamente para areia da praia, onde o aviãozinho estava estacionado e cercado de vários curiosos. Ao lado estava o piloto, um homem loiro conversando com várias dessas pessoas.

 

Na praia de Santos, próximo ao Aquário, na época em que ainda

haviam poucos prédios, vemos no canto inferior esquerdo do

cartão-postal o Seabee estacionado na areia. Do lado direito, vemos

a linha do bonde. Acervo. L. J. Giraud

 

Entretanto, o nosso interesse era pelo hidroavião, que achamos diferente dos padrões usuais, isto é, o hélice e o motor eram voltados para trás, além de ter uma cabine de aspecto gorducho. Logo descobrimos que o avião fazia passeios pelas praias de Santos. Sentimos vontade de fazer o vôo panorâmico, mas o nosso dinheiro só dava mesmo para adquirirmos passagens de  bondes (ônibus nem pensar). Assim ficamos observando as subidas e descidas do Seabee até o anoitecer. Quando então fomos para o Internacional para encontrarmos com nossas mães, lancharmos e assistir a sessão cinematográfica daquele domingo inesquecível.

 

Ao passar dos meses, fiquei assistindo as decolagens e amerissagens do aviãozinho da Ponta da Praia, até que esse espetáculo se tornou parte do cenário da Cidade, passando a ser uma situação normal. Como exemplo: as entradas e saídas dos navios.

 

Na Praia Vermelha (RJ), o autor na

companhia de sua mãe, Aura Maria

Giraud, segurando um hidroavião

improvisado de brinquedo – 1954.

Acervo: L. J. Giraud

 

Depois dessa agradável lembrança, repasso resumos recebidos dos comandantes Carlos Eugênio Dufriche e Wanderley Duck, para que os amigos leitores saibam um pouco mais do Seabee e do seu proprietário.

 

O aviãozinho na ponta da praia é um Republic RC-3 Sabbe, pequeno anfíbio de fabricação americana. Pertencia a Herberts Çukurs, um letoniano que viveu no Brasil e foi assassinado em Montevidéu, numa emboscada preparada por caçadores de nazistas. Veio para o Brasil no pós-guerra, com sua família, mulher, um filho, o Gunnar, e uma filha. Introduziu no Rio (e talvez no Brasil), os pedalinhos, inclusive na praia de Copacabana (onde não deram certo, devido á ondulação). E depois na Lagoa Rodrigo de Freitas, Comprou alguns aviões Seabee e fazia também aqui no Rio, vôos panorâmicos. Onde esteve mais tempo foi na represa de Guarapiranga. Depois de sua morte, seu filho Gunnar continuou o negócio por muitos anos. Dois desses pequenos aviões foram adquiridos por um piloto da Varig, que os está reformando ou já reformou.

              

A família Çukurs vivia tranqüilamente em São Paulo quando descobriram que ele teria praticado atrocidades, quando membro do partido nazista, na Letônia, ocupada pelos alemães. Era aviador famoso em seu país e juntou-se aos alemães, em cargo importante. À imprensa, Çukurs negou tudo, mas os caçadores de nazistas começaram a pressioná-lo e ele conseguiu proteção policial de sua casa, dado, creio, pela  prefeitura. Surgiram novas reportagens, inclusive na revista Cruzeiro, com fotos, o acusando e ele se defendendo.

 

Segundo o comandante Dufriche, vôos nas praias de Santos foram comuns na década de 20. Os primeiros a fazer vôos turísticos foram os norte-americanos Gilette e Orton Hoover. Na praia do Gonzaga, próximo às cabines de banho dos hotéis dos Bandeirantes e Belvedere, vemos dois aviões da época. A praia ainda não era ajardinada. Acervo: L. J. Giraud

 

Çukurs foi então convidado por alguém para ir a Montevidéu, organizar uma escola de pilotagem.  Lá, o atraíram  para uma casa afastada do centro onde dias depois encontraram seu corpo. Muito se escreveu sobre ele inclusive, não faz muito tempo, foi publicado um artigo, por Helio Higuchi.

 

Vôos da Ponta da Praia e de outras praias de Santos foram comuns na década de 20, acho que os primeiros a fazer “vôos de passeio”, foram os americanos Gilette e Orton Hoover, este instrutor de aviação da Força Pública de S. Paulo, instrutor de pilotagem e até cônsul americano. Ficou no Brasil e aqui faleceu, já bem idoso. Faz parte da história nossa aviação.

 

Já o comandante Wanderley Duck, no e-mail enviado conta o seguinte:

 

O capitão-aviador Herbert Çukurs (herói nacional na Letônia) após o término da Segunda Guerra Mundial, fugiu para a França, onde obteve visto para vir ao Brasil em 1946. No Rio de Janeiro trabalhou na Fábrica Brasileira de Aviões. Em 1948 ele foi reconhecido. Sua casa foi pichada e seu nome saiu nos jornais, mas nunca foi preso. Em meados da década de 1950, mudou-se com a família para Santos e depois para São Paulo. Teve sua naturalização negada. Em 1965 foi para o Uruguai com um amigo austríaco que se apresentava como Anton  Kunzle. Dois dias depois naquele país vizinho foi encontrado morto de forma brutal. Num comunicado a imprensa, um grupo autodenominado “Aqueles que não esqueceram”, assumiu o assassinato.             

               

Duck lembra ainda que Çukurs ganhou alguma fama como aviador, porque em 1933 conseguiu realizar um vôo de Riga até Gâmbia, na África Ocidental, em um dos frágeis aviões da época. Um outro detalhe dele era o de limpar os pés dos passageiros com uma vassourinha, porque dizia que a areia da praia era corrosiva para o piso do hidroavião.

 

Na capa de uma revista, o capitão-aviador Herbert

Çukurs, que foi proprietário do lendário Seabee, é

considerado um grande herói da aviação da Letônia

devido a inúmeras façanhas aéreas.

Acervo: Wanderley Duck

 

Uma outra informação de Wanderley Duck é que o motor original do Seabee - um Franklin de 210hp - viria a ser substituído por um outro de 300hp. O avião agora pertence a um comandante aposentado da Varig de nome Silvio Teani Comenho, grande admirador de todos os tipos de aviões. Na realidade, a família Çukurs tinha dois modelos do Seabee. A família de Gunnar vendeu ambos para o Comandante Comenho.

 

Passados mais de 50 anos, sempre recordo daquele domingo, em que avistei pela primeira vez o simpático Seabee, que faz parte de um dos capítulos da história de Santos.

 

O Seabee na areia da Ponta da Praia - 1958. Reprodução: Internet

 

Este artigo é dedicado as seguintes pessoas: João Gabriel Sanches Camacho (in memoriam), Carlos Maia, Maria Helena Camacho Maia, comandante Carlos Dufriche, Wanderley Duck, Fábio Melo Fontes (presidente da Praticagem de Santos), Marjorie de Carvalho F. Medeiros, curadora do Museu dos Cafés do Brasil, que na infância chegou a ver o Seabee num dos locais mais aprazíveis da Cidade de Santos, a Ponta da Praia.

 

Em pleno vôo, o Seabee mostra os flutuadores e trem

de pouso. Esse hidroavião tem um desenho diferente dos

padrões habituais. Reprodução: Internet

Curta, comente e compartilhe!
Pin It
0
0
0
s2sdefault
powered by social2s

Notícias